O designer baiano Aristeu Pires - carioca por adoção e que reside atualmente no Rio Grande do Sul - passou por Florianópolis recentemente para um bate-papo informal com arquitetos e decoradores. Veio a convite da empresária Carol Duva, da loja Santa Maria Casa, para falar das suas criações de design contemporâneo, bastante conhecidas pelo desenho de traço sutil, delicadamente sinuoso, feitas a partir da madeira.
Hoje, suas obras abastecem mais de 40 pontos de venda no país.
Aproveitamos o rasante dele pela Ilha e fizemos uma entrevista exclusiva.
Diante da velocidade que as informações chegam, como define o foco no momento da criação?
Aristeu Pires - No meu caso esse fator não faz diferença. Acho mais importante a ergonomia, a delicadeza das peças, o acabamento. Faria diferença se houvesse uma preocupação em seguir as tendências. Sei que isso é arriscado mas, felizmente, tenho tido sorte e nossos produtos acabam se encaixando em uma das tendências, o que nos mantém no mercado.
Quanto à matéria-prima evidenciada nas peças que assina, por que a escolha pela madeira? No lugar da madeira, qual material gostaria de produzir seus projetos?
Aristeu - A madeira é a matéria-prima mais ecológica que existe: é 100% renovável, durável, reciclável, biodegradável, retém carbono e consome pouca energia (carbono) no processo de industrialização. A grande diferença está na forma de extração. É imprescindível que a madeira seja extraída por meio de um processo de manejo florestal. O grande vilão que trouxe a fama ruim para a madeira foi o desmatamento sem critério e as queimadas, que são crime ambiental. Nos Estados Unidos 50% ou mais de toda a matéria-prima usada na indústria (não apenas na moveleira, mas em todas as indústrias) são madeira. As áreas de florestas de onde extraem a madeira é a mesma nos últimos 50 anos, com acompanhamento minucioso pelo serviço florestal. Alguns materiais pretendo agregar no futuro, principalmente para ambientes externos, entre eles o Corian, porque pode ser processado com os mesmos equipamentos usados para a madeira, além possibilitar a moldagem pelo calor e ter boa resistência e acabamento pronto.
Muitas de suas peças têm nomes de mulheres. Qual a relação da peça com tais nomes e tais mulheres fazem parte ou já fizeram parte da sua vida?
Aristeu - A opção pelos nomes de mulheres é porque eu considero a mulher a obra-prima de design do Criador. Costumo dizer que Deus primeiro fez o homem e depois passou a limpo, quando criou a mulher. A mulher é mais aconchegante, bem acabada, ergonômica, agradável aos olhos
Não é isso que se espera de uma boa cadeira ou poltrona? Nas mesas (que são peças mais comuns que usamos apenas como apoio) uso qualquer nome.
Cada cadeira tem uma história diferente. Nunca a inspiração parte do nome. Na maioria dos casos, na hora de batizar a cadeira, vejo as características e quem ela lembra. Tem os casos das homenagens. Só para as filhas (tenho seis, todas mulheres e lindas), para a neta e para a esposa já tenho oito nomes. Outras são amigas ou mulheres inatingíveis (como a Gisele). Usando ela como exemplo, a poltrona Gisele tem um biotipo europeu e, ao mesmo tempo, uma tropicalidade com as cordas de algodão cru. Quem é a mulher com um jeito brasileiro inconfundível, mas com o biotipo europeu?
Trabalhando com criação, costuma pensar algo para os outros, que seja viável para o mercado. Mas, o que gostaria que criassem para você?
Aristeu - Tenho alguns sonhos de consumo que já foram criados: poltrona e sofá Mole do Sérgio Rodrigues, a cadeira Paulistano do Paulo Mendes da Rocha, e a poltrona Suave da Julia Krantz.
Hoje, na área de design de mobiliário, qual o maior desafio?
Aristeu - O maior desafio é a simplicidade, mantendo conforto (ergonomia), beleza permanente (daquelas que a gente não se cansa de contemplar) que seja como música para os olhos, a facilidade de fabricação e, decorrente disso, preço acessível para que a maior quantidade de pessoas possa adquirir. Infelizmente hoje temos um desafio adicional que é "ser difícil de copiar" para fugir dos piratas. Esse último desafio obrigatoriamente passa por suporte tecnológico.
Entrevista
"A mulher é a obra-prima do design", diz o designer Aristeu Pires
Nessa linha, não é à toa que a maioria das criações assinadas pelo designer tenha nomes femininos
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