– A escolha do gênero é pessoal e intransferível. A gente tem que respeitar e aprender para saber lidar. Cada pessoa tem que ter a liberdade de ser o que ela é. Ninguém está dizendo que menino tem que ser menina ou vice-versa. Mas ninguém é obrigado a seguir um padrão de comportamento que não lhe convém.
Vai ser com esse discurso que Fernanda Lima abrirá o episódio desta noite de Amor & Sexo (RBS TV, 23h10min). A proposta é promover um debate sobre o universo LGBT, esclarecendo dúvidas do público e apresentando as histórias de representantes dessa causa, como as cantoras Liniker e Pabllo Vitar e a drag Juliana Klein, personagem criada pelo ator gaúcho Israel Wolff.
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O mérito de Fernanda será dar espaço no horário nobre da principal emissora de TV aberta do país para essa discussão, que ganhará ainda mais visibilidade quando A Força do Querer, próxima novela das nove escrita por Glória Perez, estrear em abril.
Se há 22 anos a autora levava à tela a travesti Sarita (Floriano Peixoto), em Explode Coração (1995), agora ela colocará em evidência a temática da transição de gênero. Caberá à atriz Carol Duarte, estreante na televisão, dar vida a Ivana, jovem que nasceu mulher mas se identifica como homem. Embora a escalação de uma atriz cisgênero polemize ao tirar espaço de atores trans, o fato é que a temática estará sendo discutida diariamente por pelo menos seis meses. E isso é um avanço e tanto. Como apontou estudo da jornalista e pesquisadora Fernanda Nascimento, publicado no livro Bicha (Nem Tão) Má: LGBTs em Telenovelas, foram poucas as personagens claramente identificadas como trans nas novelas da Globo – apenas oito num universo restrito a 126 personagens LGBT em 62 novelas registrados no período pesquisado, que cobriu de 1970 a 2013.
Além do papel de Carol Duarte, outro ator identificado com a temática terá destaque em A Força do Querer. Também estreante na TV, Silvero Pereira será Nonato, rapaz pobre que sai do interior do Nordeste para tentar a vida artística no Rio de Janeiro. O ator ficou conhecido no país com a peça BR-Trans, que descortina o universo de travestis, transexuais e transformistas. Graças à montagem, foi descoberto por Glória Perez. A ligação de Nonato com Ivana se dará nos palcos, onde os jovens irão se conhecer e tornar-se amigos. E será com o apoio de Nonato que Ivana começará seu processo de transição de gênero.
A chegada à Globo é mais um passo no aumento da representatividade LGBT na televisão. Há alguns anos, personagens e programas começaram a garantir mais visibilidade à comunidade. Dos reality shows RuPaul’s Drag Race e I Am Cait às séries Transparent, Sense8 e Orange Is the New Black, o movimento começou no Exterior e vem ganhando força no país nos últimos tempos.
A TV Brasil contribuiu criando o Estação Plural, atração exibida todas às segundas, às 22h, comandado Mel Gonçalves, Ellen Oléria e Fefito. O trio, militante LGBT, aborda temas como comportamento, preconceito e mercado de trabalho. Na TV paga, o GNT produziu no ano passado a série Liberdade de Gênero, dirigida por João Jardim, que mostra a vida de pessoas que não se identificam com o gênero designado em seu nascimento. Outras duas produções devem ganhar as telas em 2017: o Canal Brasil deve exibir Transgente, documentário que acompanha processos de transição de gênero; e a HBO prepara uma série sobre histórias de homossexuais e transexuais no momento da revelação de suas sexualidades. Abrindo o Armário e o Coração terá direção de Tatiana Issa e Guto Barra.
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