Novela é escapismo, é mergulhar em realidades diferentes da nossa, certo? Nem sempre. O que muitos telespectadores querem é "se ver" na telinha, ou seja, ter personagens com quem se identificar e que passam por situações verossímeis, que poderiam acontecer com qualquer um de nós. Foi isso que vimos logo nas primeiras cenas de Vai na Fé, a nova trama das 19h.
Rosane Svartman joga vários questionamentos na cara do público. Por exemplo: o seu eu de ontem teria orgulho de quem você é hoje? Que sonhos você deixou pelo caminho para chegar até aqui? Apesar das mudanças, sua essência é a mesma de anos atrás? Nada disso é dito, mas fica nas entrelinhas do texto da autora.
No caso de Sol (Sheron Menezzes), batalhadora é pouco para definir a personagem. Se é que dá pra chamar de personagem uma mulher que é a representação de tantas que estão por aí, sustentando a família sozinha, matando um leão por dia, sem perder a fé de que as coisas vão melhorar. O drama de Sol é tão real quanto o de seu marido, Carlão (Che Moais), que perdeu o emprego e a esperança durante a pandemia, e agora passa os dias sentado no sofá, vendo os dias se arrastarem.
A grande esperança da família atende pelo nome de Jenifer Daiane, personagem de Bella Campos. Depois de ficar conhecida por interpretar Muda, em Pantanal, na novela das sete a jovem atriz tem muito a dizer, seja em casa, nos conflitos com o pai, seja na faculdade, que segrega de forma nada sutil os alunos cotistas como ela. Do outro lado da moeda, Guiga (Mel Maia) já elegeu Jenifer como sua rival, apenas pelo fato de existir.
O antigo amor de Sol, Benjamin (Samuel de Assis) chegou no ápice da carreira, é um advogado bem-sucedido, mas seus olhos só brilham quando lembra do passado nos bailes funks da periferia. Casado com Lumiar (Carolina Dieckmann), Ben não precisa mais trabalhar para sobreviver, só quer viajar pelo mundo em paz. Com os bolsos cheios e a vida vazia de significado, sente falta do garoto idealista que um dia foi.
Enquanto vende quentinhas em ritmo de funk, Sol relembra sua juventude como a "princesinha do baile". É para esse mesmo lugar que Ben volta quando tenta se reencontrar. Em breve, o passado e o presente desses dois ficará ainda mais entrelaçado.
Vai na Fé é mais do que uma novela realista. A trama coloca uma lente de aumento na realidade que, muitas vezes, não percebemos, e que é tão diversa e desigual. É ficção, mas como diria a canção de Caetano, "é um pouquinho de Brasil, iaiá..."