Por Marília Feix
Jornalista e curadora musical
Em 100 Grandes Álbuns do Rock Gaúcho, você irá se deleitar, redescobrir pérolas escondidas e deparar com a impecabilidade e a apuração cirúrgica de seus autores.
Quem adquirir o livro terá em sua biblioteca uma valiosa relíquia. Essa historiografia da música feita em nossos pagos é meticulosa, primorosamente ilustrada, e traz uma ordem cronológica de discos essenciais para quem se interessa por uma boa pesquisa sonora. Os autores Cristiano Bastos e Rafael Cony envolveram-se nesta obra com profundidade para deixar um legado literário eterno da nossa cultura para o mundo.
Vale ressaltar as contribuições da jornalista Bruna Paulin em Música Feita por Mulheres e do artista Edu Meirelles no artigo Música Negra. Também há uma sessão de filmes e projetos audiovisuais gaúchos feita primorosamente por Carlinhos Carneiro e sugestões de outros livros que abordam o cancioneiro feito do Rio Grande do Sul. E, para cada um dos cem álbuns listados, mais três são elencados, em uma sessão Ouça Também, repleta de sugestões que ampliam nossa audição e descoberta.
Mas é importante lembrar que toda lista já nasce injusta, pois o conceito de “melhor” é abstrato e particular. Foi por isso que esse livro contou com um conselho editorial composto por um um grupo diverso de colaboradores. Ao utilizar o nome 100 Grandes Álbuns do Rock Gaúcho, os editores procuraram mostrar que trata-se de títulos consagrados, relevantes, e que, até o presente momento, foram sacramentados pelo grande público.
A constatação de que artistas afrodescendentes, indígenas e mulheres são uma minoria nessa história é um retrato do que vivemos, um cenário em que os homens brancos foram, e ainda são, os detentores dos espaços mais prestigiados. Há muito que se fazer para mudar, e quero crer que o futuro será mais promissor, pelo menos nesse sentido, do que o passado. Entre outras gratas surpresas do livro, está a multiartista Lory Finocchiaro, que é exaltada por um texto de Joana Alencastro; o músico Luiz Vagner, retratado por Cristiano Bastos; e o artista Carlos Eduardo Miranda, que também recebe uma matéria especial escrita por Carlos Gerbase.
Ao folhear as belas páginas da publicação, sentimos que poderiam ser infinitos os grandes discos, já que temos uma riqueza expressiva de nomes que surgiram durante e inclusive após esta edição, ou que, por estarem ainda em início de carreira, não chegaram há tempo de entrar. Considero que toda a obra nasce passível de subjetividade, independentemente do endosso da crítica especializada. Pelo contrário, a primeira pessoa a se satisfazer e se orgulhar, creio eu, deve ser o próprio artista e, consequentemente, o público. A partir daí, o que acontece é resultado dessa série de ações que vêm do coração.
É notável que, nos últimos anos, os artistas gaúchos diminuíram sua entrada nas programações de festivais do centro e norte do Brasil, e isso nos faz pensar o quanto a nossa cultura ainda precisa ser impulsionada, valorizada e mostrada para o restante do país. Também são escassas as oportunidades de apresentações, há um número restrito de casas noturnas, veículos de comunicação e até mesmo de público interessado em assistir a novas produções feitas por aqui. Para essa roda girar, é preciso que ela seja embalada por uma série de ações e movimentos propositivos. Mais um motivo para parabenizar publicações como esta, que colaboram com uma cinesia de visibilidade e crescimento da nossa arte e indústria criativa.
Viva a nossa música!