Paul Rudd chegou preparado para falar bastante coisa sobre nada.
"Não posso abrir a boca", disse, explicando as cláusulas de confidencialidade que o proibiam de divulgar mais do que as linhas gerais da trama e da tecnologia de "Homem-Formiga e a Vespa".
"Eu me sinto péssimo por você", completou, dando um daqueles sorrisos de bom moço reconhecível aos fãs de "As Patricinhas de Beverly Hills", "Bem-vindo Aos 40" e "Eu Te Amo, Cara" – o mesmo que termina quase imperceptivelmente, com uma pitada marota que faz você se perguntar, "Será que sente mesmo?".
A sequência começa com o ex-presidiário Scott Lang (Rudd) – que se tornou o minúsculo Homem-Formiga graças a uma vestimenta inventada pelo Dr. Hank Pym (Michael Douglas) – em prisão domiciliar por ter violado as leis que regem os super-heróis. Porém, após ter sobrevivido ao Reino Quântico no original, Scott é mandado de volta para lá com a filha de Pym, Hope van Dyne (Evangeline Lilly), vestida de Vespa, com direito a asas e um poderoso detonador, para resgatar a mãe dela, Janet (Michelle Pfeiffer), desaparecida há tempos.
Na onda do empoderamento feminino, é uma das poucas vezes em que o nome de uma super-heroína aparece no título de um filme da Marvel.
"Homem-Formiga e Vespa, uma dupla e tanto. No primeiro filme, ela é a pessoa que acho muito mais capacitada que eu para a missão – e aí finalmente conquista os meios para se tornar aquilo que nasceu para fazer, ou seja, ser uma herdeira durona, dona do trono por direito", afirma Rudd.
Em um bistrô argentino em Nova York, pertinho de onde mora com a mulher, Julie, e os filhos Jack, de treze anos, e Darby, de oito, o ator falou de sua incursão no mundo dos super-heróis já na meia-idade, o lado negativo da fama e o peso de ser querido por todos.
Aqui vão alguns trechos editados da nossa conversa.
P: Li em algum lugar que você não gosta de ser entrevistado.
R: Vou ser honesto com você, nunca me sinto cem por cento à vontade falando a meu respeito nesse tipo de cenário; tem sempre algum tipo de filtro. Já faço isso há tantos anos que comecei meio que a questionar se minha narrativa é real ou se só comecei a repetir a resposta padrão em algum momento. Tipo, será que foi assim mesmo que tudo começou? É isso mesmo que penso a respeito das coisas ou será que respondi assim uma vez e agora se tornou verdade? Não, eu não curto, mas faz parte do show, né?
P: Sim, se você é um super-herói. Ou prefere a expressão "personagem de ação"?
R: Eu me refiro a mim mesmo como personagem de ação na vida real e super-herói na vida de mentira.
P: Como é começar a explorar esse espaço no que podemos dizer considerar o meio de sua carreira?
R: Espero que não seja. Se for, acabamos de prever a minha morte. [Risos] Fiquei muito empolgado. Era um ponto tão fora da curva, algo tão diferente de tudo o que já tinha feito até então... Só pensei que seria o primeiro trabalho que meus filhos poderiam ver.
A minha carreira, é uma coisa esquisita. Com certeza, andei em alguns sets aí, olhei à minha volta e percebi que era o veterano do grupo. E aconteceu sem eu me dar conta. Pensando bem, percebo que minha carreira teve várias guinadas para a esquerda. Antes de "O Âncora", nunca fui muito fã de comédias desse tipo, ou seja, todo esse capítulo do [Judd] Apatow foi assim, uma coisa meio torta, contraditória. Como ator, eu sempre quis fazer papéis diversos, gêneros diferentes, coisas que me interessavam. Não queria nada repetitivo.
P: E aí você acabou ajudando a escrever o roteiro tanto do original como da sequência. O que acrescentou que ainda não havia ali?
R: Toda a parte boa. Nossa, isso vai ficar bem se você escrever assim... Quer dizer, o humor irônico e o sarcasmo.
P: Imagino que um papel desses exija treinamento específico e uma dieta rígida.
R: Enquanto duraram as filmagens eu estava comendo mais salmão do que seria normal para qualquer pessoa; e muita beterraba também. Engraçado, comecei a gostar de beterraba só depois de adulto. Hoje eu adoro, mas quando era garoto, nunca comia. Sempre achei meio intimidante, talvez por causa da cor, que mancha tudo. E o que me vem na cabeça são lances em termos aeróbicos, qualquer atividade que me faça suar e subir os batimentos cardíacos; talvez uma hora de levantamento de pesos. Deus do céu, olha o que estou dizendo. Estou me odiando. Se eu começar a falar em dorsal, deltoide, repetições e séries, pode me matar.
P: Alguém disse que o novo boneco da Hasbro é parecidíssimo com você. Ter uma figura à sua imagem é o ponto máximo do sucesso?
R: Alguém me mostrou uma foto. Está meio rindo de lado, né? Tenho a versão da Mr. Potato Head. A da Lego também é muito legal. Eu cresci brincando com as pecinhas, meus filhos e, no entanto, aquela me deixou sem saber o que fazer. Fui parar também nas palavras cruzadas do New York Times. Meu nome era a resposta e só isso já achei o mais incrível. Adoro palavra cruzada, faço o tempo todo, e aí de repente me descobrir... Teve aí umas oportunidades em que pensei, "Quer saber de uma coisa? O negócio está dando certo." Essa situação foi uma.
P: Você se reconheceu imediatamente como a resposta?
R: Imagine se não reconhecesse? Coloquei Judd, achei que era sobre Wynonna Judd. Que nada! Acertei de cara. Para falar a verdade, alguém já tinha me contado. "Cara, você é a resposta da 21 horizontal!".
P: Você tem fama de ser o queridinho de todo mundo; até o bartender aqui comentou. Isso em algum momento incomoda?
R: Tem alguma coisa meio delicadinha, meio ingênua nessa frase. Em termos de ser gostável, não acho que seja melhor que ninguém, mas tento não ser grosseiro. Acho legal as pessoas sendo gentis e educadas umas com as outras. A vida já é tão dura, para que deixá-la mais difícil?
Por Kathryn Shattuck