Um dos fundadores das seminais bandas inglesas Joy Divison e New Order, o baixista e vocalista Peter Hook vai se apresentar no Opinião neste sábado com um show cujo repertório revisita o pós-punk e o synthpop britânico da virada dos anos 1970 para os 1980. Ao lado do grupo The Light, Hook mostrará as músicas das antológicas coletâneas Substance, lançadas em 1987 e 1988 – a primeira, dedicada a New Order, a segunda, ao Joy Division.
A seleção de faixas de ambos os discos será executada na íntegra e na mesma ordem em que aparecem nos álbuns.
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O set list inclui hits do JD como Transmission, She's lost control, Atmosphere, Ceremony e Love will tear us apart e sucessos do NO do tipo Temptation, Blue monday, Confusion, The perfect kiss, Sub-culture, Shellshock e Bizarre love triangle. Ao lado do vocalista Ian Curtis (1956 – 1980), do guitarrista e tecladista Bernard Sumner e do baterista Stephen Morris, Hook formou em Manchester, em 1976, a banda Warsaw – rebatizada Joy Division em 1978. Com a morte de Curtis, o grupo mudou outra vez de nome, para New Order, recebeu novos integrantes, com Sumner assumindo os vocais principais, e cambiou de sonoridade – trocando aos poucos o clima sombrio das primeiras músicas para adotar um perfil mais dançante e eletrônico, com o qual dominou as pistas durante as décadas de 1980 e 1990.
Na turnê pelo Brasil, Hook terá a companhia de David Potts (guitarra), Andy Poole (teclado) e Paul Kehoe (bateria). Com essa formação, o inglês gravou em 2011 um EP, chamado 1102/2011. Zero Hora conversou com o músico de 60 anos.
Entrevista: Peter Hook, músico
Que tipo de lembranças do Joy Division e do New Order esta turnê traz para você?
É engraçado, porque eu tenho feito os shows dos discos das duas bandas alternadamente há cerca de seis anos e meio, o que tem me trazido lembranças de quando nós gravamos as faixas e os álbuns e também de quando tocávamos essas músicas ao vivo. Quando nós fizemos o Substance do New Order, regravamos Tempation e Confusion. Fizemos Substance porque Tony Wilson (produtor inglês, fundador da gravadora Factory Records, que lançou bandas como Joy Division e New Order) tinha um carro novo com aparelho de CD e queria tocar todos os singles do New Order, do primeiro ao último. No começo éramos muito alternativos em nossa filosofia e não colocávamos os singles nos álbuns, então eles não tinham sido lançados em CD. Tony colocou os singles juntos e nos demos conta do material fantástico que tínhamos e do quanto faziam sentido as faixas em sequência, acompanhando o progresso do New Order de Ceremony até True Faith.
Você desempenhou um papel central na criação de uma nova cena musical em Manchester nos anos 1980, tocando com e/ou produzindo bandas seminais. Como foi viver aquele período criativamente excitante?
Me tornei músico por causa do punk e assistindo aos Sex Pistols no Free Trade Hall em Manchester, em 1976. Nós só queríamos dizer a todo mundo "foda-se" porque isso era o que Johnny Rotten estava fazendo nos Sex Pistols. No dia depois que vimos os Sex Pistols em Manchester, eu e Barney formamos a banda. Aquele show foi realmente um maciço ponto de mudança na história musical de Manchester. Eu e Barney, por exemplo, andávamos como uns caras normais com empregos medíocres, mas agora caminhávamos como punks que têm uma banda! Olhando os Sex Pistols, tínhamos a sensação real de "nós também podemos fazer isso!", o que, devo admitir, não recebíamos assistindo a outras bandas da época como Led Zeppelin ou Deep Purple. Nós não achávamos que poderíamos fazer isso, mas os Sex Pistols mostraram para nós que a gente poderia. É incrível que naquele show você tivesse tanta gente assistindo que seria tão importante para a história musical de Manchester. Eu diria que definitivamente foi o começo de uma nova era. Tivemos a sorte de fazer parte da cena de bandas de Manchester e de contarmos com a ajuda de Pete Shelley (vocalista e guitarrista) dos Buzzcocks nos primeiros anos, mas o clima entre os grupos era muito competitivo e selvagem. Você literalmente tinha que subir em cima dos outros para arranjar os melhores shows. Mesmo assim, foi uma época excitante e para nós, crescermos como banda, primeiro como Warsaw e depois como Joy Division, significou que aprendemos muito rapidamente. Também tivemos sorte de ter uma gravadora como a Factory Records.
O Joy Division e o New Order são influências vivas no pop rock atual. O que faz com que essas bandas ainda soem tão vigorosas e modernas até hoje?
Acho que você tem que atribuir isso à composição e ao trabalho que nós quatro fizemos no Joy Division. Nós éramos jovens e cheios de energia, realmente nos jogamos nisso, e os resultados ainda passam hoje pelo teste do tempo. Também devemos muito ao nosso produtor Martin Hannett, que moldou uma sonoridade individual para a banda. Apesar de que na época quiséssemos que os discos soassem mais punk, Martin na verdade estava certo. Ele era um gênio à frente de seu tempo. O engraçado é que era Rob Gretton, nosso empresário, que sempre dizia "Joy Division vai ser enorme em 30 anos". Nós também nunca acreditamos nele na época, mas enfim ele provou que estava certo.
Você tenta emular o jeito de cantar de Ian Curtis e Bernard Sumner ou, ao contrário, evita aproximar-se do estilo deles?
Parece que se esquece que eu fui o cantor principal nas bandas Monaco e Revenge, então eu tenho experiência de palco. Também depois da morte de Ian nós todos fizemos audições para ser o vocalista principal e eu cantei em um par de faixas em Movement, primeiro disco do New Order, então cantar para mim não é muito um problema. A reação especialmente em fazer Unknown pleasures no começo me deixou nervoso, mas acho que evoluí nisso e depois de cerca de seis meses comecei a gostar disso. Eu realmente não tento emular o jeito deles cantarem, mas cantar com a minha própria voz. É mais fácil com o Joy Division porque meu alcance é muito mais similar ao de Ian do que ao Bernard, mas acho que estou copiando bem, especialmente considerando as críticas e reações que temos recebido dos concertos.
Você tem lembranças de suas passagens anteriores pelo Brasil?
Obviamente a última vez com o New Order no Brasil não foi ótima, mas à parte isso o Brasil sempre apoiou muito nossas bandas e sempre tivemos excelentes acolhidas. Essa hospitalidade é incrível. As plateias dessa turnê são muito bem informadas sobre os grupos e a música e parecem curtir os shows dos discos. Nós sempre passamos bem no Brasil e vivemos ótimos momentos aí, espero que isso continue.
Que tipo de música você está escutando?
Escuto todos os tipos de música, muito de dance music e rap atuais, mas também tento acompanhar as novas bandas, especialmente aquelas que vêm da área de Manchester, que vejo como meu dever promover. Algumas aí para você conferir e que estão estourando em Manchester: Blossoms, The Slow Readers Club, Death to the Strange, Cabbage. Por um instante há um par de anos fiquei um pouco preocupado que Manchester não estivesse gerando novas bandas, mas suponho que essas coisas acontecem em ciclos. Agora, de repente, há um bando novo dando as caras, o que é muito saudável para a cena.
Quais são seus planos? Pretende gravar um disco novo, por exemplo?
Engraçado você comentar isso. Embora The Light tenha sido realmente um veículo para tocar os álbuns e trazer de volta meu catálogo, desde que Pottsy (David Potts, guitarrista e vocalista), que era meu parceiro de composição no Monaco e tocava comigo na banda, juntou-se ao The Light, sempre temos pensado em começar a compor juntos de novo. Planejamos trabalhar em um novo disco do Monaco no ano que vem, então esperamos voltar ao Brasil para tocá-lo para vocês.
PETER HOOK & THE LIGHT
Sábado, às 20h30min. Abertura da casa: 19h. Classificação: 16 anos.
Opinião (José do Patrocínio, 834).
Ingressos: de R$ 85 (promocional, com a doação de um quilo de alimento não perecível) a R$ 160 (em 1º lote). À venda na loja Youcom do Bourbon Wallig (sem taxa, somente em dinheiro) e nas lojas Youcom dos shoppings Praia de Belas, Iguatemi, Bourbon Ipiranga, Barra Shopping Sul, Bourbon Novo Hamburgo, Canoas Shopping e Multisom da Andradas, 1.001 e do Bourbon São Leopoldo (com taxa de R$ 5). Venda online: minhaentrada.com.br/opiniao (com taxa de 20% sobre o preço do bilhete).