A Feira do Livro de Porto Alegre sempre foi programa obrigatório para minha família: o pai estacionava o Ford em frente à Praça da Alfândega, e a gente descia já correndo em direção às barraquinhas – tropicões e joelhos ralados nas pedras portuguesas eram de praxe. O pai dizia que podíamos comprar de livros o que nos desse na telha.
Eu vi a Feira crescer: daquelas barraquinhas iluminadas com temerários bicos de luz, surgiram novas alamedas, mais e mais barracas, lancherias e coberturas. Em 1996, passei a frequentar a Alfândega na qualidade de autora, alegria da vida. Desde quarta passada, não consigo sequer definir o sentimento que me invade. É alegria, mas não só. É também uma emoção profundíssima, um sentimento como de plenitude e gratidão por ocupar uma das posições que mais respeitei e prezei em toda minha vida: a de patrona. Meu Deus, patrona da Feira do Livro de Porto Alegre.
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Sentimentos à parte, há trabalho pela frente. Me cabe fazer com que as pessoas prestigiem nosso evento maior. Quero que a gente possa conversar sobre livros. Quero que levemos cadeirinhas de praia, nos abanquemos na praça e que mostremos uns para os outros o que conseguimos de bom nas bancas. Quero fazer uma roda de conversa em torno do Sergio Faraco. Quero os jovens autores conversando com os mais antigos do ramo. Quero que leitores encontrem seus autores. Quero que as pessoas se deem conta do valor que é ser atendido por livreiros de verdade. Quero que os frequentadores desfrutem de bons preços. E que se aproveite a programação cultural.
Quero honrar os queridos André Neves, Caio Riter, Luis Dill e Cláudia Tajes, que junto comigo foram indicados para o patronato, bem como o ex-patrono Dilan Camargo e todos os patronos antes dele. Quero fazer jus ao voto de confiança que associados e staff da Câmara Rio-Grandense do Livro me deram. E quero homenagear a lembrança do Ford do pai estacionado na Rua da Praia, dos bicos de luz das barraquinhas e daqueles tesouros que a gente trazia nos braços e que significaram meu futuro.