“Aplauda quando quiser! A moda do século 20 que consiste em não aplaudir entre os movimentos de uma obra é absurda historicamente. O silêncio não era sempre obrigatório na época de Mozart.” Desde que isso apareceu num programa musical parisiense, faz pouco, e foi publicado logo em seguida num blogue, o assunto viralizou – pelo menos o quanto podem viralizar essas coisas da música de concerto que, no redemoinho do dia a dia, importam menos do que deveriam.
Aplauso liberado. Nada de sentar sobre as mãos, como diriam os americanos. Mas, alto lá!, o assunto não é bem esse. Não se trata de uma liberação geral e irrestrita. Esse simpático parágrafo de incentivo ao aplauso aparece, no programa do concerto parisiense, logo depois da listagem de movimentos de uma obra de Mozart. Ah, bom! É esse o assunto – sim, nos tempos de Mozart se aplaudia a qualquer momento. Na verdade, fazia-se de tudo ao som da música e a qualquer momento, coisas dizíveis e indizíveis.
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Então não quer dizer que o aplauso esteja liberado para qualquer tipo de obra. Tanto aquela peça singela em múltiplos movimentos, num começa-acaba-começa-acaba irritante, até as sinfonias mais musculosas, daquelas que recém terminou o primeiro movimento e já se tem vontade de ir correndo para casa. Na verdade, há momentos em que o aplauso é mesmo irresistível, deva-se ou não. O final do primeiro movimento do concerto para violino de Tchaikovsky, por exemplo, é um desses. Ouça e não aplauda, se for capaz. Ou o último movimento da Nona de Beethoven. Mas, nesse caso, como já é o último movimento da sinfonia, aproveita-se o entusiasmo para levantar e ir embora.
Essa questão de aplaudir ou não uma peça de concerto ainda não terminada, essa incerteza quanto a estar cometendo uma gafe imperdoável, é assunto que vai e volta. No final das contas, os protocolos são muito simples. Se a música bateu como um soco na boca do estômago ou na ponta do coração, aplaude-se. Sempre haverá quem diga que um aplauso aparentemente fora de hora atrapalha a concentração dos músicos, que nem sempre o aplauso será recebido como elogio. Ah, mas isso é outro assunto.