Um bibliófilo é alguém aferrado a tal paixão pelos obras que se dispõe a não ganhar nada, gastar muito e ter um trabalho obsessivo para garimpar exemplares de livros raros. É um trabalho obstinado de acumulação, para o qual um temperamento generoso não chega a ser pré-requisito. Mas, assim como lá de vez em quando se descobre um exemplar novo de um primeiro fólio de Shakespeare, também aparece um bibliófilo abnegado. Waldemar Torres era um deles.
Paulista de nascimento, radicado em Porto Alegre há 20 anos, Torres mantinha um acervo precioso – o material que havia reunido sobre o modernismo brasileiro rivalizava com qualquer centro universitário. Nunca, no entanto, deixou de franqueá-lo a pesquisadores e apresentá-lo ao público em exposições e mostras que organizava prodigamente em diversos espaços da Capital. A cada Feira do Livro, por exemplo, lá estava ele, com seu perfil tranquilo e barba grisalha de homem sábio, apresentando volumes selecionados de sua coleção em mostras temáticas. Não é, como se pode pensar, uma generosidade fácil em uma cidade em que já roubaram até o livro de bronze da estátua do Quintana, em plena Feira do Livro.
Porque Torres não apenas acumulou livros. Soube compartilhá-los, também.