A pianista Gloria Cheng teve uma ideia. É perigoso quando pianistas têm ideias, porque às vezes se fica cogitando: "Por que não pensei nisso antes?". Ela convidou seis compositores de cinema para compor música para solo de piano, "música apenas...", diz ela. Ou seja, música que não está atrás da imagem, que está no primeiro plano, com ou sem referência à bagagem cinematográfica de cada um dos seis compositores escolhidos.
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Não se sabe o critério que guiou a escolha de Gloria Cheng. Talvez as 72 indicações para o Oscar que esses compositores compartilham seja uma boa hipótese. Os perfis são variados, assim como a música. Há John Williams e Randy Newman. Há Michael Giacchino de Divertida Mente e Don Davis de Matrix. Ou Bruce Broughton que musicou o seriado Dallas anos a fio. E Alexandre Desplat, o mais erudito de todos, o que mais se aproxima das suítes e das sonatas, oscarizado por O Grande Hotel Budapeste e com ficha longa de serviços no cinema francês.
O álbum Montagem: Grandes Compositores de Cinema e o Piano é uma delícia. Que pena que Howard Shore não tenha sido convidado, pois a trilha para Spotlight - Segredos Revelados é um primor de música de câmara, refletindo o próprio caráter do filme, que tem um elenco que é antes um grupo (como na música de câmara) do que o brilho do indivíduo. Mas o que se tem no álbum de Gloria Cheng já é divertido o suficiente, e foi evitado o caminho mais fácil - apenas transformar cinema em solo de piano e pronto! Os compositores, como se diz por aí, se puxaram.
Os 18 minutos que se passa na companhia de John Williams são muito agradáveis e o mesmo acontece com os seis minutos de Alexandre Desplat ou os outros tantos de Michael Giacchino. E por aí vai: o álbum está disponível em todas as plataformas, portanto é só clicar e ouvir. Se poderia fazer a mesma coisa no Brasil? Claro que sim: que tal começar pela recuperação da partitura jazzística-atonal de Rogério Duprat para Noite Vazia? Aí sim, já seria alguma coisa.