2015 teve um pouco de tudo entre o circuito dos shoppings e as salas alternativas. E até via streaming, com a entrada da Netflix na produção de longas-metragens. Confira alguns destaques do ano no cinema
10 filmes
Branco Sai, Preto Fica
Combinando de forma inventiva o registro documental com a ficção científica, o diretor Adirley Queirós apresenta um contundente painel sobre a desigualdade social no Brasil. O filme tem como protagonistas homens negros que arrastam os efeitos da violência policial que sofreram quando jovens.
Ida
Ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2015, o longa polonês de Pawel Pawlikowski disseca traumas da II Guerra Mundial que ainda fazem arder feridas nos anos 1960. A protagonista é uma jovem noviça que descobre episódios que marcaram sua família judia durante a ocupação nazista da Polônia.
Phoenix
A protagonista do filme alemão assinado por Christian Petzold é uma mulher judia (Nina Hoss) literalmente marcada pela II Guerra. Ao fim do conflito, ela deixa um campo de concentração com o rosto deformado. O marido não a reconhece, mas tenta tirar proveito da oportunidade, trama que irá revelar aspectos sórdidos do caráter humano.
Deephan
O diretor Jacques Audiard levou a Palma de Ouro no Festival de Cannes com este longa sobre um tema urgente no mundo atual. Misturando drama social com ação, narra a história de três refugiados da guerra civil do Sri Lanka que fingem ser uma família para se adaptar à dura vida de imigrantes na periferia de Paris.
Jauja
Filme argentino em que seu realizador, Lisandro Alonso, leva o espectador a uma rarefeita jornada – existencial, experimental e sensorial – pela Patagônia do século 19. Viggo Mortensen vive um militar dinamarquês que, na busca por um paraíso mítico, se lança à procura da filha que fugiu com um soldado.
O Clube
Vencedor do grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim 2015, o longa chileno dirigido por Pablo Larraín aborda com qualidade narrativa e cenográfica um tema espinhoso. Em um retiro à beira-mar, são confinados religiosos católicos acusados de crimes como pedofilia, tráfico de crianças e colaboração com assassinatos e torturas da ditadura militar.
O Clã
Fenômeno de bilheteria na Argentina, o longa de Pablo Trapero recria uma violenta história real. Em meio ao processo de redemocratização do país, nos anos 1980, um agente da repressão (Guillermo Francella) direciona sua experiência em sequestros e assassinatos para extorquir empresários com cumplicidade e conivência da mulher e dos filhos.
Nostalgia da Luz
Demorou a chegar ao Brasil este documentário chileno de 2010 no qual o diretor Patricio Guzmán funde dois temas com brilhante organicidade: a astronomia e o impacto da ditadura de Pinochet. No deserto do Atacama, cientistas observam estrelas enquanto parentes de vítimas buscam vestígios de quem ali foi enterrado clandestinamente.
Era uma Vez na Anatólia
O premiado Sono de Inverno, ou Winter Sleep (2014), ficou inédito no RS, mas o cineasta turco Nuri Bilge Ceylan marcou presença entre as estreias deste ano com seu longa anterior, lançado em 2011, mas trazido em 2015 para a Cinemateca Capitólio. Era uma Vez na Anatólia é um filmaço sobre a busca de autoridades por um cadáver enterrado em lugar incerto.
Que Horas Ela Volta?
O filme de Anna Muylaert fez o Brasil discutir, ao mesmo tempo, uma relação de trabalho herdada do período colonial e as transformações sociais vividas nos últimos anos. Regina Casé tem grande atuação como a doméstica nordestina de família paulistana que reencontra a filha (Camila Márdila), jovem que chega à cidade para prestar vestibular e driblar o destino.
10 fatos
O Capitólio entre nós
Foram mais de 10 anos de obras até que, em março, a Cinemateca Capitólio devolveu aos cinéfilos da Capital o prazer das célebres salas de calçada. Na tela do belo e restaurado prédio da Borges de Medeiros com a Demétrio Ribeiro, circulam filmes de alta qualidade das mais diferentes procedências.
Exceção Mad Max
Mad Max – A Estrada da Fúria é um caso raro entre as franquias que apresentaram novos títulos em 2015 (houve várias, incluindo os campeões de bilheteria Vingadores: Era de Ultron, Velozes e Furiosos 7 e Jurassic World). O filme apocalíptico de George Miller foi aclamado pela crítica como um dos melhores de 2015.
Oscar de baixo orçamento
A consagração de Birdman, de Alejandro Iñárritu, no Oscar ressaltou a força do cinema independente ou autoral em Hollywood. Nessa disputa, o “davi” Whiplash, de Damien Chazelle, derrotou o “golias” Sniper Americano, de Clint Eastwood: três estatuetas a uma. Os três longas estiveram entre os destaques do ano.
O cinema fora do cinema
Um dos mais badalados filmes do ano sequer foi lançado nos cinemas em 2015. Beasts of No Nation é uma produção da Netflix que só entrou em cartaz em poucas salas dos EUA – para se habilitar a disputar o Oscar. A julgar pela ambição da gigante do streaming, pode ser esta uma tendência para o futuro.
O despertar do gigante
Talvez nem os fãs mais devotos de Star Wars esperavam que o sétimo episódio da saga espacial fosse arrebentar tanto. Sucesso de público recebido com entusiasmo também pela crítica neste mês de dezembro, O Despertar da Força, de J.J. Abrams, encaminha-se para ser um dos filmes de maior bilheteria da história.
Chatô, finalmente
Depois de quase 20 anos de conturbada realização, e quando poucos acreditavam que seria finalizado, Chatô, o Rei do Brasil, de Guilherme Fontes, estreou nos cinemas. E surpreendeu positivamente por sua anárquica e, a seu modo, suntuosa reconstituição das nebulosas relações entre dinheiro e poder no Brasil.
Os filmes que não estrearam
A lista dos longas que não chegaram às salas de Porto Alegre em 2015 é enorme. Inclui vencedores recentes de Cannes (Sono de Inverno), Berlim (Táxi Teerã) e Veneza (Desde Allá), os três maiores festivais do mundo. E, ainda, o russo Leviatã e o italiano As Maravilhas, também premiados, entre outros eventos, em Cannes.
Cinema de invenção
Dois destaques do ano vieram de projetos ambiciosos que lançaram olhares agudos e derrisórios sobre a França (O Pequeno Quinquin, de Bruno Dumont) e Portugal (As Mil e Uma Noites, de Miguel Gomes). O primeiro foi concebido como uma minissérie de televisão, e o segundo, como uma trilogia de filmes.
Gaúchos na vitrine
Pelo menos cinco longas gaúchos estrearam em 2015. Entre eles, um fenômeno de popularidade do circuito alternativo (Filme sobre um Bom Fim, há quase 20 semanas em cartaz) e um expoente da renovação a que vem sendo submetida a produção local (Beira-Mar, que foi exibido no Festival de Berlim).
Godard em 3D
Um dos mestres do cinema, Jean-Luc Godard não só está ativo aos 85 anos como propôs uma grande reflexão sobre o uso da imagem a partir da tecnologia 3D. Em Adeus à Linguagem, experimentou o recurso associado aos blockbusters para apresentar uma impactante experiência sensorial nas salas dos shoppings.