O mago do pinball
O primeiro contato de Caho Lopes com os fliperamas foi quase sobrenatural. Passando em frente ao antigo Fliperama da Bruxa, no centro de Porto Alegre, foi "desafiado" pelo Cavaleiro Negro - pinball clássico que, entre seus atrativos, soltava frases para o jogador. Caho aceitou o desafio e hoje, aos 51, é um expert nas máquinas de bolinhas cromadas.
- Pinball é mais do que bater na bolinha - explica. - Há uma história ali naquela mesa, que vai sendo contada conforme o jogo avança.
Sumidos das ruas, fliperamas viraram objetos de culto e coleção
A primeira aquisição de Caho foi há oito anos, uma Fish Tales encontrada juntando poeira em Cachoeirinha. Demorou cinco anos e quase o dobro do investimento para reformá-la. Daí não parou mais: em 2014, chegou a ter 29 máquinas, adquiridas em estado lastimável e deixadas como novas na oficina que montou em sua casa, na zona sul de Porto Alegre.
- A ideia é deixar a máquina o mais próximo do original, então trago todas as peças de fora, até o menor dos parafusos - comenta Lopes. - É um universo fascinante, mas também muito dispendioso, porque, além de pagar em dólar, tem ainda todo tipo de taxa.
O hobby ficou ainda mais sério no começo deste ano, quando o autointitulado Pinball Godfather (numa alusão a O Poderoso Chefão) ganhou um espaço no Paseo Zona Sul para os amantes da jogatina. Passada a euforia original, Lopes notou o óbvio: a cena do pinball, em Porto Alegre, está morta. Manter a loja começou a pesar no bolso, a paixão virou dor de cabeça, e ele fechou as portas.
Hoje, Lopes tem 16 máquinas, mas pretende ficar com apenas quatro: uma raríssima Medieval Madness (que pode chegar a valer R$ 50 mil); a debutante Fish Tales; o pinball inspirado no filme Star Wars - A Ameaça Fantasma (uma das últimas fabricadas pela produtora Williams); e uma da banda Kiss, presente para o filho e companheiro de jogatina Caho Júnior, sete anos. Do restante, duas ele pretende doar para um museu que está sendo montado em São Paulo e as outras, vender - não sem alguma dor no coração.
- Às vezes, me vejo colocando um preço bem alto para ninguém comprar - brinca.
Tudo por uma tartaruga (ninja)
Michel Bohn foi buscar a máquina dos seus sonhos em São Paulo
Até onde você iria por um arcade? O analista de sistemas Michel Bohn, 33, foi até São Bernardo do Campo, em São Paulo. Em 2007, ele, a namorada e um amigo percorreram mais de 2,5 mil quilômetros em um Escort 1994 para conseguir um exemplar original de Teenage Mutant Ninja Turtles - o saudoso jogo das Tartarugas Ninja, de 1989.
- Conheci e me apaixonei por essa máquina quando tinha oito anos de idade. Nos anos 2000, quando notei que ela havia desaparecido, botei na cabeça que precisava ter uma em casa - explica Bohn. - Demorei seis anos para encontrar uma do jeito que eu queria.
Desde então, o rapaz virou um garimpeiro de arcades. Procurando principalmente pela internet, conseguiu exemplares de máquinas clássicas, como o jogo de tiro do filme Exterminador do Futuro 2, o fofo game de ação dos Simpsons e o impressionante gabinete de seis controles de X-Men. Agora, está à cata do primeiro Mortal Kombat, lançado em 1992, e do raríssimo Moonwalker, jogo baseado no filme de mesmo nome estrelado por Michael Jackson em 1988.
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Mais do que nostálgica, a coleção de Bohn é o retrato da tecnologia e dos costumes de uma época. Quase todas as máquinas compradas por ele, por exemplo, têm cinzeiros atarraxados ou marcas de queimaduras de cigarros - algo tão impensável hoje quanto os próprios fliperamas. Mas não só.
- Os arcades eram tão grandes para poder acomodar os monitores de tubo - observa Bohn. - Se fossem lançados hoje, com um monitor de tela plana, teriam metade do tamanho. Seriam mais fáceis de acomodar, é verdade, mas não haveria espaço para as artes que cobriam o gabinete e davam um charme todo especial às máquinas.