Dos EUA, onde está para cumprir uma maratona de entrevistas, a cineasta Anna Muylaert conversou com ZH sobre o sucesso crescente de seu Que Horas Ela Volta?. O filme dobrou sua presença no circuito nesta sua terceira semana em cartaz, fenômeno que os distribuidores atribuem à boa propaganda boca a boca.
Confira, a seguir, o depoimento da diretora, que classifica a "virada" do filme no mercado como "milagre".
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Avaliando apenas a relação do filme com o público, pode-se dizer que a abertura foi razoável, depois houve uma pequena queda tanto no número de salas que o exibiam como na venda de ingressos e, mais recentemente, um aumento muito significativo nos dois casos, que aliás é algo bastante incomum. A que você atribui essa mudança?
O filme está crescendo muito a partir da terceira semana em cartaz. E isso se dá muito pela propaganda boca a boca. Recebo mensagens praticamente a cada cinco minutos no Facebook e em outras redes sociais - todas muito emocionadas. Muitos me agradecem pelo filme e alguns contam histórias pessoais. Eu leio todas e respondo todas. Esse contato está sendo vibrante tanto para mim quanto para parte da equipe com quem compartilho tudo. Mas o longa ainda precisa chegar a mais pessoas. É importante o mercado dar ao filme tempo necessário para maturação e entendimento do público. Acho que a indicação como representante brasileiro ao Oscar e as grandes entrevistas em rede nacional que estamos fazendo contribuíram também para esse crescimento no boca a boca e, consequentemente, sua evolução no circuito exibidor.
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O filme é acessível: comunica-se bem com todos os tipos de público. A possibilidade de alcançar cinemas mais populares, possível apenas agora, com essa ampliação do circuito exibidor, dá a perspectiva de que essa relação do filme com o público possa melhorar ainda mais?
Sempre acreditei na qualidade popular do filme. Acho inclusive que, se o mercado tivesse acreditado no filme como eu acreditava, e tivesse dado a ele um tratamento mais popular, investindo mais dinheiro em publicidade, esse número poderia ser muito maior. Mas, mesmo entrando no páreo como um filme de arte, o próprio filme está achando seu espaço e chegando onde tem que chegar. Sempre falei nesse milagre. E ele esta acontecendo. Estou muito feliz!
Dramas brasileiros em geral têm feito bilheterias abaixo do esperado - ao contrário das comédias populares. O chamados filmes de mercado "médios" têm sido cada vez menores - a distância entre os títulos muito populares e os "de nicho" aumentou muito nos últimos anos. Que Horas Ela Volta? parece ir na contramão desse movimento. Qual o motivo, na sua opinião?
Hoje a produção está dividida basicamente em dois tipos de filme, o filme de arte que normalmente não tem acesso ao grande público e a comédia televisiva que até tem acesso ao grande público, mas que é um subproduto da TV que nada contribui para o cinema brasileiro. Acho que precisamos encontrar um caminho do meio: fazer filmes bem feitos que se proponham a ter qualidade ética e estética e ao mesmo tempo procurem comunicação com o público. E o Que Horas Ela Volta? tem essa característica de, mesmo com uma pitada de humor, levar assuntos que precisam sem discutidos para dentro da casa das pessoas. Quando estava elaborando o roteiro e depois, ao filmar, minha grande preocupação era fazer um filme para que todos entendessem.
Os números
Que Horas Ela Volta? começou a ser exibido em 27 de agosto em 91 cinemas no Brasil, com média de 287 espectadores por sala a cada dia. Na segunda e na terceira semanas, o número caiu para 69 e, depois, 78 cinemas. Mas a média de espectadores por sala/dia foi aumentando, até chegar a 617 na semana passada. Para atender a esse público crescente, a distribuidora Pandora providenciou novas cópias. Desde esta quinta-feira, o longa passou a ser exibido em 150 salas do país, número mais de 90% maior que o da semana anterior.
No Exterior
Que Horas Ela Volta? também tem feito bom público em outros países, como França, Itália e Estados Unidos. É nos EUA que a diretora está neste momento, cumprindo uma maratona de entrevistas. Confira alguns elogios recebidos pelo filme lá fora:
"É um filme superlativo em todos os seus aspectos. Tem uma performance gigantesca, única, no centro de uma complexa e incomum comédia sobre família, amor e divisão de classes." - Wall Street Journal
"A atuação de Regina Casé é hilária e, ao mesmo tempo, de tirar o fôlego." - Entertainment Weekly
"A narrativa trabalha em muitos níveis, que estão refletidos em seu ambíguo título internacional (The Second Mother, ou A segunda mãe), com personagens em caracterizações perfeitas." - Revista britânica CineVue
"Trata-se de um filme complexo, realizado com mão segura por Anna Muylaert. É íntegro, socialmente consciente e profundamente reflexivo, não apenas sobre o Brasil, mas sobre as estruturas sociais ao redor do mundo." - IndieWire