Em família - de novo
Assim como já ocorrera com Marília Pêra na entrega do Oscarito, o Troféu Eduardo Abelin chegou ao produtor e diretor Zelito Viana pelas mãos de seus filhos - Betse de Paula e Marcos Palmeira. Zelito recebeu a láurea no momento em que a lendária produtora Mapa, fundada por ele, Glauber Rocha, Paulo César Saraceni, Walter Lima Jr. e Wanderlei Reis, completa 50 anos.
- Dedico este prêmio a Glauber, León Hirszman e Joaquim Pedro de Andrade, amigos que nos deixaram precocemente. Aprendi muito com eles - disse o homenageado, que tem 77 anos. - É bom estar aqui. Mas ano que vem quero voltar com filme em competição. Nunca disputei um Kikito. É uma falha no currículo - brincou.
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Barretão de olho
Parceiro de geração de Zelito Viana e um dos maiores produtores do país, Luiz Carlos Barreto, o Barretão, estava no Palácio dos Festivais durante a homenagem ao amigo. Quando Zelito subiu ao palco para receber o troféu, ele se levantou e correu para o "gargarejo", para filmar o momento - ficou, inclusive, à frente dos fotógrafos instalados na primeira fila de poltronas do cinema gramadense.
A viagem do guri
Uma multidão de atores e técnicos subiu ao palco do Palácio dos Festivais para apresentar Ponto Zero, o bom primeiro longa de José Pedro Goulart - diretor gaúcho que surgiu em meados dos anos 1980 com curtas-metragens como O Dia em que Dorival Encarou a Guarda, codirigido com Jorge Furtado.
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O filme, que aborda o pesadelo de um adolescente (Sandro Aliprandini) em meio a uma família problemática da classe média porto-alegrense, aposta em imagens oníricas para ilustrar seu estado de espírito. Não é uma narrativa fácil - mas foi bem-recebido pelo público que lotou a sala e dali só saiu ao fim da sessão, por volta da meia-noite de quinta para sexta-feira. O longa tem distribuição garantida no circuito pela Pandora.
Outros adolescentes
Chama a atenção, em Gramado 2015, a quantidade de longas brasileiros protagonizados por meninos. Dos sete títulos em competição, três se enquadram nesta definição: Ausência, filme de Chico Teixeira estrelado por Matheus Fagundes, e O Outro Lado do Paraíso, de André Ristum, com Davi Galdeano, além do próprio Ponto Zero, com Sandro Aliprandini.
Todos são bons - Galdeano está acima do que o próprio filme em que atua -, mas melhor ainda é a performance de Breno Nina, que é um pouquinho mais velho, em O Último Cine Drive-In, de Iberê Carvalho. Como um garoto que tem de cuidar da mãe doente e acaba reencontrando o pai, proprietário de um velho cinema drive-in de Brasília, ele teve uma das melhores atuações de Gramado 2015.
E as atrizes?
Cíntia Rosa tem muito boa atuação no drama político O Fim e os Meios, de Murilo Salles. Da mesma forma, é notável o entrosamento do trio Claudia Muñiz, Marianela Pupo e Maribel Garzón como as três amigas que trabalham em um salão de beleza no bom filme cubano Venecia, de Kike Álvarez. Elas ganharam, juntas, o prêmio de melhor atriz no Festival de Guadalajara, em março passado - poderiam bisar o troféu em Gramado?
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Barraza é o nome dele
Falando em intérpretes da mostra latino-americana de longas-metragens: estão na serra gaúcha dois atores do longa mexicano En la Estancia, um dos mais instigantes filmes de todo o festival. Natalia Gatto e Gilberto Barraza estão ótimos como personagens que circulam em torno de Jesús, um homem nonagenário que é um dos sobreviventes de uma remota vila do interior mexicano.
En la Estancia é uma mistura de documentário com ficção cuja primeira parte é protagonizada apenas pelo velhinho (interpretando a si próprio) e o personagem de Barraza - que segura a bronca em um registro hiper-realista de deixar o espectador impressionado. Canditatíssimo ao Kikito.
Críticos na direção
A Associação Brasileira dos Críticos de Cinema (Abraccine), da qual este escriba faz parte, elegeu na quinta-feira, em assembleia realizada em meio ao Festival de Gramado, a sua nova diretoria para o biênio que terminará em meados de 2017. O mineiro Paulo Henrique Silva, do jornal Hoje em Dia, assumiu a presidência, em substituição a Luiz Zanin Oricchio, de O Estado de S. Paulo, que ocupou o cargo nos primeiros quatro anos de existência da instituição. O novo vice é Orlando Margarido, da Carta Capital.
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