A palestra do Fronteiras do Pensamento marcada para hoje será em dose dupla. Os sociólogos Richard Sennett e Saskia Sassen ocupam na noite desta segunda-feira o palco do Salão de Atos da UFRGS para falar de dois temas centrais do mundo contemporâneo: a maneira como lidamos com os outros e o modo como nos relacionamos com a cidade.
A holandesa e o americano são casados desde 1987. Ela é professora na Columbia University. Sennett dá aulas na Universidade de Nova York, e ambos lecionam na London School of Economics. São especialistas conceituados nos rumos do capitalismo contemporâneo -que definem como "neoliberal" - e vêm trabalhando em projetos para serem apresentados na Habitat III, a terceira edição da Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável, marcada para Londres, em 2016. Eles estão tentando propor uma nova agenda urbana para o século 21.
Saskia Sassen: "Protestos usam espaço público como rua global para a política"
Saskia é reconhecidamente uma das grandes intelectuais a relacionar o espaço urbano e as tramas da globalização. Foi ela que pôs em circulação o termo "Cidade Global", título de um de seus livros mais conhecidos, publicado em 1991, que define as megalópoles de Nova York, Londres e Tóquio como modelos de um novo tipo de cidade, com uma vida centrada em serviços especializados e uma economia interligada ao capital financeiro que extrapola divisas e fronteiras territoriais.
A própria arquitetura na "cidade global" reflete um novo modelo de organização, mais adaptado às pressões da globalização do que ao conceito histórico de cidade que conhecemos ao longo do tempo. E com um modo mais difícil de lidar com a diversidade natural de uma metrópole.
- Houve épocas em que grandes cidades conseguiram lidar bem com a diversidade: pense em Bagdá ou Jerusalém na Antiguidade. Por que eles conseguiam e nós não? Porque as cidades, naquela época, eram dominadas pelo comércio, como nos grandes bazares, e isso gerou, quase de modo inevitável, uma espécie de civilidade: dadas as ligações e interdependência mútua do comércio, a religião do outro comerciante importava menos do que se era possível confiar nele. Isso acabou. As cidades de hoje giram em torno de finanças, investimento de capital e competição por salários. O que o outro ganha, você perde - disse ela, em entrevista a Zero Hora.
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Quando o trabalho torna-se invasivo
Nascido em Chicago, Richard Sennett também vem se dedicando às transformações que a evolução do capitalismo financeiro produziu no modo como as pessoas se relacionam em sociedade. Alguns de seus livros ressoam diretamente em temas recentemente muito debatidos no Brasil, como A Corrosão do Caráter: as Consequências Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo (publicado no país pela Record), no qual analisa os efeitos a longo prazo da constante flexibilização de leis e contratos de trabalho.
Richard Sennett: "Classes diferentes devem se misturar no espaço público"
Para ele, o discurso hegemônico do atual capitalismo de destruição da rotina do ambiente de trabalho, representa mais uma forma de controle total dos trabalhadores do que uma libertação. Sem rotinas e uma separação clara entre locais de trabalho e vida pessoal, o trabalho se torna isolado e invasivo.
- Os novos trabalhadores no mercado já estão tendo de lidar com a realidade de turnos de trabalho mais curtos e flexíveis, com menos garantias legais. Sabemos muito bem, conforme documentado em diversos estudos, que o resultado disso é tornar cada vez mais difícil para as pessoas trabalharem juntas. O trabalho se tornou mais individualista e as empresas encorajam muito pouco a cooperação mútua entre seus empregados - definiu, em entrevista a ZH.
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