Uma longa estrada pode mesmo ser boa metáfora para a vida de uma cantor sertanejo. Foi em uma dessas rotas que o músico Cristiano Araújo teve um acidente fatal na madrugada desta quarta-feira. Para quem trabalha no meio sertanejo, passar longos períodos nas rodovias é algo difícil de evitar.
- Os artistas ficam muito tempo expostos ao risco. Quando não estão indo ou voltando de shows, estão divulgando o trabalho em alguma rádio ou televisão. Há toda uma estrutura de produção, assessoria de imprensa e outras pessoas envolvidos que só consegue ser paga por meio de shows - avalia Michel Smera Hirata, produtor da dupla paulista Ricardo & João Fernando.
Leia mais:
Um fenômeno recente do sertanejo e em ascensão: quem era Cristiano Araújo
Músicos lamentam nas redes sociais a morte do cantor Cristiano Araújo
Produtor da dupla Marcos & Belutti, de sucessos como Domingo de Manhã e Aquele um por Cento, Maurício Piller concorda que é difícil deixar de lado a rotina apertada de shows:
- É o trabalho, não tem jeito. O sertanejo é a onda do momento, quem garante que continuará sendo mais adiante? Quem garante que uma dupla repetirá o sucesso que consegue com uma canção quando lançar a seguinte? Aproveitar o momento faz parte da rotina dos artistas.
No universo da música sertaneja, os artistas costumam contratar escritórios para montarem suas logísticas de turnê. Mas são os produtores e os próprios músicos que decidem se o planejamento está adequado. Para tanto, levam em conta as questões físicas dos artistas e a própria estrutura dos espetáculos.
- O ideal é que a distância de um show a outro seja de até 500 quilômetros, mais ou menos, porque aí se pode descansar bem, sair de manhã de uma cidade e chegar no local do evento no início da tarde, com tempo para a passagem de som e tudo o mais - acrescenta. - Mas não é incomum se fazer até 1 mil quilômetros. Nesses casos, é preciso viajar à noite, logo depois do show anterior. Não é o ideal para ninguém, nem para o artista, nem para os responsáveis pelo seu transporte.
Hirata aponta que, se a indútria do disco voltasse a ser lucrativa, seria possível estar menos exposto ao risco:
- Se o disco desse mais retorno que o show, os artistas caprichariam mais na produção artística e poderiam passar menos tempo dedicados ao palco.