Prevista para estrear nesta quinta-feira, A Espiã que Sabia de Menos deve ser a segunda paródia a chegar aos cinemas em 20 dias - a outra foi Super Velozes, Mega Furiosos, que entrou e saiu de cartaz com a velocidade de um possante conduzido por Vin Diesel.
A assiduidade com que esses filmes satíricos têm frequentado o circuito parece maior, mas a verdade é que eles estão em produção contínua desde os anos 1970. Tiveram seu auge na década seguinte e, hoje, como acontece com outros gêneros, chamam a atenção mais pela quantidade com que aparecem do que propriamente por suas qualidades.
Ao menos na escolha dos títulos há diversão: Jogos Famintos é uma referência a Jogos Vorazes, A Saga Molusco faz troça de Crepúsculo e, alguns poucos anos atrás, houve Espartalhões (sátira de 300) e Plump Fiction (que ri do novo clássico de Tarantino), entre outros. Em geral, essas produções fazem piada de tendências, gêneros ou filmes específicos, têm custos baixos e seus autores se contentam com espaços restritos nas salas de cinema. Mas há grandes sucessos de público, vide a série Corra que a Polícia Vem Aí, e de crítica, a exemplo de Zumbilândia. Há, em consequência disso, sequências - Todo Mundo em Pânico já chegou a cinco longas, e o sexto não deve demorar.
- O problema é que o humor desses filmes mais recentes é muito pobre - comenta o cineasta e pesquisador Felipe M. Guerra. - Acham que fazer um fusca virar monstro é uma boa piada de Transformers. O que funciona, nas paródias, são brincadeiras com os clichês que estão no inconsciente coletivo, e não citações banais a cenas específicas.
Acima, o "Rambo" de Charlie Sheen em Top Gang 2 - A Missão
Felipe M. Guerra é gerente de programação do Cine Santander, em Porto Alegre, e assina ele próprio dois longas desse subgênero do humor, lançados em 2001 e 2011. Atenção aos títulos: Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-feira 13 do Verão Passado - Partes 1 e 2. O primeiro foi feito em VHS. O segundo, em vídeo digital. Seu sonho é rodar um terceiro em HD - agora, usando um suporte profissional para rir dos filmes independentes, e não suportes amadores para rir do mainstream, caso dos longas anteriores.
- Há filmes de terror baratos que se levam a sério demais - justifica.
O Brasil tem tradição no cinema que parodia o próprio cinema. Nos anos 1980, Ivan Cardoso fez uma série de filmes batizados de "terrir" - terror para rir, em uma explicação rápida. Antes, em 1976, na carona da franquia Planeta dos Macacos, Didi Mocó e companhia protagonizaram O Trapalhão no Planalto dos Macacos - a trama se passava, em parte, em Brasília. Em 1978, um ano após o primeiro Star Wars, ainda apresentaram Os Trapalhões na Guerra dos Planetas.
Mais recentemente, em 2014, houve Copa de Elite (foto abaixo, com Marcos Veras satirizando o personagem de Wagner Moura em Tropa de Elite). Entre abril e maio, quando foi exibido no circuito, o filme foi visto por 636 mil pessoas no país.
Esse número é alto - superior a diversos longas sérios de orçamentos bem maiores. Copa de Elite chegou lá um tanto pelo apelo pop das produções que satiriza, outro pelo elenco - que inclui Anitta, Rafinha Bastos e comediantes do Porta dos Fundos. Seria isso o necessário para uma paródia dar certo?
Difícil definir, mas Felipe M. Guerra conta uma história que dá uma pista:
- Eu era criança quando vi Alta Ansiedade (1977), do Mel Brooks (que parodia filmes de Hitchcock). Ainda não conhecia a obra de Hitchcock, mas achei engraçadíssimo. Depois de conhecê-la, revi Alta Ansiedade e ri ainda mais. Brooks usou tantas camadas que funciona com todos os tipos de público.