Nos últimos 15 anos, a literatura brasileira vem se estruturando como mercado, e um dos reflexos disso é a proliferação de feiras e eventos literários. Muitos deles parecidos com feiras de comércio com a eventual presença de alguns autores, espaços nos quais o público é solicitado a se aproximar mais do escritor como figura presente do que da literatura propriamente dita. A Jornada escapa dessa armadilha - e por um motivo tão básico quanto original: sempre trabalhou com a escola.
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A reunião bianual entre público e escritores na lona não era o único fim da Jornada, e sim seu ponto culminante. Definidos os autores, as escolas da região começam a trabalhar seus livros em aula, o que vale tanto para as turmas mais velhas quanto para a gurizada que lota arquibancadas para ver Maurício de Sousa, Ana Maria Machado ou Ziraldo, visitantes tão frequentes. Estão lá, portanto, leitores atentos que já leram e pensaram sobre o livro e, por isso, o diálogo com os autores é mais profundo e comprometido.
Outro ponto que diferencia a Jornada no panorama dos eventos literários é que seu público, embora tenha espaço para o curioso eventual, é majoritariamente composto de professores - professoras, para ser bem preciso. Docentes que, de caderno na mão, estão ali para acompanhar a discussão de questões urgentes da literatura e do mundo: livro eletrônico, incentivo à leitura na era dos livros best-sellers, o fascínio da literatura, a linguagem digital do amanhã, todos temas que já passaram pelo palco da Jornada. Isso talvez não funcione para "aquecer o mercado", mas funciona sim para formar leitores - uma pesquisa da Câmara do Livro há alguns anos localizou na região de Passo Fundo o maior índice de livros lidos por habitante do Rio Grande do Sul.
Está na moda afirmar o óbvio: que os problemas profundos do país só serão resolvidos com investimento em educação - o governo e grandes corporações vêm surfando em slogans com essa mensagem. Há que se ver, contudo, que resultado podem ter os slogans prometendo novidades para o futuro quando não se consegue manter algo que já existia e vinha funcionando, como a Jornada.