A memória é salvaguarda da humanidade. Aos que ficam, pela capacidade de ser relato. Aos que virão, pela condição de bússola. Transita por aí a pertinência do lançamento de Marco Bortolai, o Andarilho, que Plínio Mioranza autografa nesta quinta-feira, às 18h30min, na Maneco Livraria e Editora (Mal. Floriano, 879).
Na apresentação, o filósofo Jayme Paviani observa que a vida de qualquer ser humano é interessante. A de Bortolai, imigrante italiano que conseguiu fazer certa fortuna, mas perdeu boa parte das economias pela falência do Banco Pelotense, é ainda mais dada aos desvarios que protagoniza a partir de tal episódio.
Vira um bufão, um Quixote, uma figura que perambula pelas estradas e vilas do meio rural de Nova Trento e Nova Veneza na década de 1940. Blasfema, blefa, comete blagues. Desdenha instituições, políticos, convenções. Causa estranheza, gera contendas e, sobretudo, personifica, na região, a figura do Velho do Saco, personagem que amedronta a gurizada, povoando sonhos ou pesadelos que se perpetuam.
Nisso, o texto de Mioranza transita com habilidade de prosa e, como também registra o escritor José Clemente Pozenato, de relato histórico, de registro etnográfico e de cenário de uma época. Reaviva ainda o acento talian da Serra, num glossário informal de termos e frases faladas à época, mas que ainda repercutem em dialetos. E vai além, reunindo uma coleção de nomes e sobrenomes que, à sua maneira, são contraponto e complemento da vida e da construção da identidade socioeconômica da Serra.
Então, de novo, Paviani alenta os percalços do andarilho agora eternizado no livro afirmando que a ética do personagem plasmada na escrita de Mioranza redimem o humano do esquecimento. E a posterioridade se reinventa lá atrás.
Velho do Saco
Plínio Mioranza lança livro em Caxias nesta quinta-feira
'Marco Bortolai, o Andarilho' trata sobre imigrante que fez fortuna e perdeu quase tudo
Carlinhos Santos
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