Repaginar com um figurino contemporâneo a tradicional dor de cotovelo - velha senhora responsável por alguns dos mais inspirados momentos da canção popular brasileira. O desafio foi o mote para a formação do Coletivo Samba Noir, que vem a Porto Alegre lançar seu primeiro disco. No show desta noite (30/4) no Theatro São Pedro, o grupo vai mostrar cerca de 17 músicas - a maioria, sambas antológicos movidos a dores de amores, que soam atuais graças a arranjos casando instrumentação acústica com climas eletrônicos. Concebido a partir de 2013 pela cantora e compositora Katia B e pelo violonista Luís Filipe de Lima, o projeto que inclui ainda o multi-instrumentista Guilherme Gê e o percussionista Marcos Suzano estreou nos palcos no começo do ano passado, no Rio de Janeiro.
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No material de divulgação, Luís Filipe resume a empreitada: "A brincadeira era vestir esse repertório de maneira arrojada, pouco convencional, trazendo para o novo trabalho a experiência de Katia com as sonoridades eletrônicas, mas fazendo-as dialogar com o violão de sete cordas, que remete ao regional de choro e às serestas". Com esse objetivo comum, o quarteto atualizou hinos da fossa como Chove Lá Fora (Tito Madi), Ninguém me Ama (Fernando Lobo e Antônio Maria) e Tão Só (Dorival Caymmi e Carlos Guinle). O resultado é um som moderno, rebuscado sem excessos, lento mas não arrastado, sinuoso, em que se destacam os graves da percussão e do baixo synth - teclado que faz as vezes do contrabaixo convencional.
- Luís Filipe separou uma lista de 70 a 80 músicas, gravadas pelos maiores intérpretes do Brasil. Elas tinham que caber na minha interpretação, a ideia era imaginar uma mulher contando todas essas histórias - explica Katia falando ao telefone com Zero Hora desde o Rio.
Entre bambas da MPB como Ary Barroso, Wilson Batista, Noel Rosa e Vadico, apenas um compositor emplacou duas canções no álbum de estreia do Samba Noir: o porto-alegrense Lupicínio Rodrigues, presente com Aves Daninhas e Volta.
- Não tem como fazer um disco que fala sobre esse tema sem Lupicínio. Nosso guia foi a paixão, por isso não vimos problema algum em gravar duas composições dele. Aves Daninhas é a música em que eu sou mais atriz no palco. Gê fez um arranjo com estranhamento na segunda voz - relata Katia a respeito da gravação, que chama atenção pelo som do violão trinando como um pássaro a bicar o peito da intérprete.
Volta, que fecha o CD, conta com a participação especial de Jards Macalé, cuja voz rascante contrasta com a suavidade da vocalista do conjunto. Os auxílios luxuosos do Samba Noir incluem ainda o músico americano Arto Lindsay cantando e tocando guitarra em Meu Mundo É Hoje, Egberto Gismonti e seu piano em Risque e Carlos Malta soprando flauta, clarone e sax barítono em Pra que Mentir?. Todos os convidados participam do show ao lado do Samba Noir, em imagens gravadas e projetadas no videocenário criado por Batman Zavareze.
- Além das 10 faixas do disco, também vamos apresentar músicas como Me Deixa em Paz, Luz Negra e Negue, que devem estar no próximo trabalho - adianta Katia, acrescentando que o coletivo pretende gravar já neste semestre o próximo álbum.
SAMBA NOIR
Coletivo Samba Noir
Disco com 10 faixas, Sambatown, R$ 30, em média.
Cotação: 4 de 5
Show: nesta quinta-feira (30/4), às 21h, no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº, fone 51 3227-5100), em Porto Alegre. Ingressos: R$ 40 (plateia e camarote central), R$ 20 (camarote lateral) e R$ 10 (galeria). À venda na bilheteria do teatro.
Fino da fossa
Coletivo Samba Noir mostra em Porto Alegre versões modernizadas de sambas sobre dor de cotovelo
Roger Lerina
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