"Quando você mora com as pessoas, você as conhece mais do que gostaria". A frase dita por um dos personagens centrais de O Amor é Estranho ajuda a resumir a premissa do longa que estreia nesta quinta na Sala de Cinema Ulysses Geremia (Luiz Antunes, 312). Dirigido pelo norte-americano Ira Sachs, o filme utiliza o pano de fundo de um casamento entre dois homens para falar sobre intimidade. O tema amplo possibilita um passeio por cenas que conversam bem com a comicidade, ao mesmo tempo que tocam em questões profundas como a terceira idade, o preconceito e os limites que garantem a liberdade de cada um. O filme fica em cartaz até o dia 12 de abril, com sessões quintas e sextas, às 19h30min, e sábados e domingos, às 20h. Ingressos a R$ 4 estudantes e idosos) e R$ 8.
O espectador é apresentado a George (Alfred Molina) e Ben (John Lithgow) logo no dia mais importante do relacionamento de 39 anos do casal: eles vão se casar. Mas depois de muita comemoração, George perde o emprego que mantinha há anos como professor de música numa instituição católica. O roteiro faz uma crítica pontual à postura da igreja - que aceita ter um funcionário homossexual, mas não um funcionário homossexual casado. Só depois da alfinetada necessária é que a história vai se desenrolar de fato, porém, por outro viés. A situação financeira obriga George e Ben a vender a casa onde vivem, e os dois acabam se dividindo em lares provisórios oferecidos por pessoas de seu convívio.
Fugindo do clichê mais óbvio, o filme não explora as dificuldades enfrentadas por um casal gay (praticamente) idoso em meio a sociedade ainda repleta de preconceito. Ira Sachs e o brasileiro Mauricio Zacharias construíram um roteiro mais universal, que toca em questões do cotidiano. É que, pense bem, todo mundo já teve um super amigo(a) que se mostrou amplamente estranho ao dividir com ele o mesmo teto por alguns dias. É assim que George e Ben se sentem, completos estranhos em ninhos alheios.
O artista plástico Ben vai morar com o sobrinho e acaba causando certo transtorno, principalmente à mulher dele, Kate (Marisa Tomei). Escritora que trabalha em casa, ela precisa de um tempo sozinha para se concentrar, o que não acontece quando o falante tio está por perto. Não bastasse isso, o casal ainda tem um filho adolescente mal-humorado para compor o cenário do caos. E se Ben causa incômodo ao ambiente, no caso de George ocorre o inverso. É ele que não consegue se adaptar à rotina de festas e jantares na casa do jovem casal de amigos onde foi acolhido.
Um dos aspectos mais interessantes de O Amor é Estranho está na forma como retrata a relação do casal protagonista. Há uma cumplicidade tão evidente entre os dois, que às vezes o filme fica com cara de romance, daqueles em que um casal precisa enfrentar vários obstáculos para poder ficar junto. Separados por conta do acaso, as cenas dos encontros ou conversas entre os dois são sempre belas e carregam um tom íntimo e doméstico ("Fiz minha carne refogada, mas ninguém falou nada", conta George a Ben, provavelmente esperando dos outros as mesmas gentilezas do marido).
Ao contrário do que o título pode sugerir, não é o amor de George e Ben que é estranho -está mais para invejável. Estranhas são as situações as quais a dupla se submete quando não está lado a lado, se apoiando.
Cinema
Longa "O Amor é Estranho" estreia nesta quinta em Caxias
Filme fica em cartaz até o dia 12 de abril, na sala Ulysses Geremia
Siliane Vieira
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project