Uma velha Olivetti portátil já foi a confidente de muitas das crônicas do jornalista da TV Globo Marcelo Canellas, 48 anos. É para a máquina de escrever que ele corre quando está em sua chácara em Sobradinho, no Distrito Federal, e tem alguma ideia que não quer deixar escapar. Por lá não há computador, mas não é raro que surja a inspiração para um texto, que Canellas trata de registrar em papel. Muitos deles estão reunidos entre as 70 crônicas que fazem parte de seu primeiro livro, Províncias - Crônicas da Alma Interiorana, que ele autografa nesta quarta, na Palavraria.
- A primeira crônica do livro, por exemplo, O Janeiro em que o Brasil me Perdeu, sobre a tragédia da Kiss, escrevi primeiro à máquina porque era domingo e eu estava na chácara - conta o autor, que há 11 anos escreve para o jornal Diário de Santa Maria, da cidade onde nasceu.
Províncias é uma compilação das mais de 600 crônicas publicadas no jornal e uma declaração de amor à terra natal - não à toa, a chácara onde ele se refugia leva o nome de Boca do Monte, em homenagem a Santa Maria, também conhecida como Santa Maria da Boca do Monte.
Canellas, que viaja profissionalmente há 25 anos e já cobriu assuntos como um furacão na Nicarágua e um terremoto no Haiti e chegou a tomar sopa em uma entrevista com Gabriel García Márquez, fez sua primeira viagem profissional de carro de Santa Maria a uma roça em Silveira Martins, na Região Central, onde um morador havia colhido uma batata inglesa do tamanho de uma melancia.
- Todo mundo conhece a minha relação com Santa Maria. Grande parte da temática do que escrevo é ligada à vida do Interior. Depois do que aconteceu na Kiss, em janeiro, achei que devia concentrar o tema do livro em Santa Maria, mostrando o olhar de um olhar sobre a vida do interior. Acho que muito do que eu escrevo tem esse olhar de repórter contador de histórias. Eu viajo há 25 anos, mas, na verdade, sinto como se nunca tivesse saído de Santa Maria - afirma Canellas.
Essas influências, que volta e meia fazem com que ele escreva sobre reminiscências de sua infância e adolescência, também foram decisivas para a escolha da capa, uma fotografia da Vila Belga, um dos locais históricos da origem ferroviária da cidade.
Entre suas influências literárias, o autor cita as crônicas de Ruben Braga, o olhar peculiar sobre as coisas simples de Mario Quintana, a poética das músicas de Chico Buarque e a carpintaria da narrativa de Gabriel Gárcia Márquez.
- Apesar de estarem muito ligadas a Santa Maria, a maioria das histórias das crônicas é, na minha visão, universal - diz o autor.
Depois de Santa Maria e Passo Fundo, Canellas lança o livro hoje em Porto Alegre, às 19h, na Palavraria. Depois, será a vez de Pelotas (quinta-feira) e Caxias do Sul (sexta-feira).
- A relação com o leitor ainda é algo novo para mim. Ela sempre foi com os telespectadores. Com as crônicas, o leitor reconhece o cronista e começa a ter uma relação com a pessoa - afirma Canellas.
Províncias - Crônicas da Alma Interiorana
Editora Globo Livros, 160 páginas, R$ 34,90 (em média).
Em Porto Alegre, na Palavraria (Rua Vasco da Gama, 165), em Porto Alegre. Fone (51) 3268-4260.
Sessão de autógrafos na quarta, às 19h.
Em Pelotas, na Livraria Vanguarda no Shopping Pelotas (Avenida Ferreira Viana, 1526).
Sessão de autógrafos amanhã, às 19h.
Em Caxias do Sul, na Do Arco da Velha Livraria e Café (Rua Os 18 do Forte, 1690).
Sessão de autógrafos na sexta-feira, às 19h.