Encarar pequenos alunos recém abalados por um trágico incidente torna ainda mais delicada a missão do novo professor contratado para assumir a classe. Mas é um homem movido pela paixão por ensinar e pela tenacidade esse mestre que protagoniza O que Traz Boas Novas (Monsieur Lazhar, Canadá, 2011), longa-metragem que estreia nesta sexta-feira no Guion Center 2.
Bachir Lazhar (Mohamed Fellag) chegou da Argélia em busca de asilo político no Canadá e ainda amargando lembranças traumáticas. Enquanto espera o trâmite burocrático para definir se tem ou não direito a permanecer no país como refugiado, Lazhar se oferece para trabalhar como professor de crianças na faixa dos 11 anos ainda desorientadas pelo que ocorreu com a professora que os ensinava.
Choque cultural, um tanto de preconceito e, sobretudo, o estranhamento diante da metodologia do professor marcam os primeiros contatos de Lazhar com a garotada, os colegas professores, a direção da escola e alguns pais.
Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2012, O que Traz Boas Novas passa por situações recorrentes neste modelo de filme - a conquista da confiança da turma, a mão do mestre guiando o desabrochar dos alunos para a vida, a empatia com uns, os pequenos conflitos com outros.
Mas não interessa ao diretor Philippe Falardeau desenvolver o suspense sugerido pela trama, tampouco questionar se algumas atitudes de Lazhar são corretas como ele julga ser. O diretor busca mostrar com esse olhar estrangeiro, "de fora", sobre um microcosmo tão definidor da sociedade que ensinar e educar não são ações distintas a serem realizadas em separado em casa e na escola - como pensam os pais de um aluno que intimam Lazhar, após o filho sofrer uma reprimenda.
O ofício do professor é destacado no filme por um aspecto de certa forma nostálgico, como a lamentar a inversão de papeis que hoje deixa quem ensina um tanto acuado em questões como imposição de autoridade, maior proximidade física com os alunos, demonstrações de afeto e também carraspanas. E quando não encontram também em casa uma figura equivalente a esse farol para lhe guiar o rumo (é sim uma leitura possível da postura permissiva de certos pais), os jovens ficam sob o risco de navegar à deriva.
Enfim, o papel que deveria ser o de protagonista, o do professor, parece cada vez mais o do coadjuvante sem muitas falas.