Dona Isabel despertou cedo na manhã desta sexta-feira. Melhor dizendo, desistiu de dormir, tamanha a algazarra dos companheiros ao redor, embalados pela madrugada de muita cachaça.
- Não aguento mais vocês! Olha que o Nilo já foi, hein? - esbravejou, tentando assustá-los com o destino de seu personagem preferido em Avenida Brasil, interpretado por Zé de Abreu, que no capítulo de terça-feira não resistiu a uma garrafa de aguardente envenenada tomada direto no bico.
Antes dos dois cacetinhos com ovo frito degustados no café da manhã, Isabel leu a edição de Zero Hora que trazia sua foto na capa.
- Isabel! Tu viu? - gritou um vizinho, aproximando-se com um exemplar.
A reportagem detalha como a moradora de rua comprou uma televisão usada de 14 polegadas para acompanhar a trama de João Emanuel Carneiro debaixo do Viaduto Tiradentes (trecho das ruas Silva Só e Mariante sobre a Avenida Protásio Alves), no bairro Rio Branco, em Porto Alegre. Isabel Cristina Mello Bittencourt, 56 anos, é catadora de material reciclável e perambula pelas ruas há cerca de duas décadas. No final da tarde desta sexta, estava exultante com o reconhecimento da vizinhança.
- Gente que nem fala comigo passou de boca aberta. O Facebook ficou assim, ó - conta, explicando que foi à casa de um conhecido conferir a repercussão na internet e também o vídeo postado em zerohora.com. - Hoje eu não tenho sossego. Parece que sou a Carminha, que sou a Nina, que sou tudo - completa, gargalhando.
Ainda lamentando o fim de Nilo, interesseiro e explorador de trabalho infantil do lixão, a catadora não sabia apontar seu atual principal suspeito - transitou entre várias hipóteses ao longo da semana.
- Chorei com a morte do "véio" Nilo. Fiquei viúva - lembra ela, rindo. - Se a assassina for a Carminha, acho que a coisa vai ficar feia. O "véio" das boneca já era, a gente já sabe que é bandidão mesmo - teoriza, citando Santiago, interpretado por Juca de Oliveira, atual grande vilão do enredo.
Isabel acredita que a súbita fama possa lhe trazer alguma alegria mais duradoura. Com oito filhos e quatro irmãos, parte deles morando com a mãe em uma casa na Cavalhada, zona sul da Capital, Isabel resiste a viver com os parentes porque o espaço é pequeno para tanta gente.
- Agora pode ser que pinte muita coisa boa para mim. Talvez até um teto - disse, interrompendo brevemente a conversa para ir ao encontro de um homem que fazia sinal para lhe entregar algumas bananas. - Esse aí nunca tinha falado comigo nesses anos todos.
Confira no vídeo abaixo um depoimento de Isabel sobre sua vida e suas opiniões sobre Avenida Brasil: