Desde o mês de julho, o Forfun está de volta à estrada com a turnê Nós, resgatando os principais sucessos do grupo, que surgiu no início dos anos 2000, no Rio de Janeiro. Em Porto Alegre, a apresentação ocorrerá nesta sexta-feira (8), no Pepsi On Stage (Av. Severo Dullius, 1995), a partir das 22h. Não há mais ingressos disponíveis. Uma apresentação extra foi anunciada para o dia 9 de novembro, sábado, mas acabou sendo cancelada.
Curiosamente, o show de reencontro ocorrerá após nove anos (e um dia) do show de despedida da Capital, que foi realizado no dia 7 de novembro de 2015, também no Pepsi.
Inicialmente marcado para o dia 28 de junho, no Estádio Passo D'Areia (Zequinha), a apresentação precisou ser adiada em razão da enchente que atingiu o Rio Grande do Sul em maio.
O quarteto carioca, formado por Danilo Cutrim (guitarra e vocal), Vitor Isensee (teclado, guitarra e vocal), Nicolas Fassano (bateria) e Rodrigo Costa (baixo e vocal), é dono dos hits Hidropônica, História de Verão, Good Trip, Morada, Minha Joia, entre outros.
Nesta reta final, haverá, ainda, um show em São Paulo, no dia 17 de novembro. O encerramento da turnê, previsto para ocorrer no dia 23 de novembro no Estádio Nilton Santos (Engenhão) precisou ser remarcado para 7 de dezembro, na Praça da Apoteose (Sambódromo), no Rio de Janeiro.
Na conversa com a reportagem de Zero Hora na quarta-feira (6), Vitor Isensee refletiu sobre o amadurecimento do grupo neste retorno, além de esclarecer detalhes da turnê que culminaram em alterações na data dos shows. O músico ainda falou sobre a relação do grupo com a capital gaúcha e os próximos passos após o encerramento da turnê.
Como tem sido se apresentar com o Forfun novamente? Que balanço você faz desse reencontro?
Muito intenso na questão das emoções, de reativar depois de nove anos uma coisa que ficou adormecida. Voltar aos palcos foi uma coisa que tivemos que revirar o baú em muitos sentidos, desde o artístico até o emocional. Muda tudo, desde a linguagem corporal no palco até a forma de se comunicar com o público. Te obriga a sair do óbvio, fazer coisas que há nove anos não fazia. Está sendo muito profundo o processo, é muito foda ver como a banda e a obra tem um impacto legal no público, como essas músicas chegam no coração de muita gente.
Eu imagino que vocês recebam muitas mensagens de “cresci com vocês” e “ajudou a moldar o meu caráter”. Tem fã que se casou ou se formou com música do Forfun. Que sentimento se tem ao se deparar que você faz parte de algo que marcou a vida de tanta gente?
Tem os dois lados. Sem falsa modéstia, dá um orgulho e uma satisfação, alguma coisa que fiz na vida já contribuiu para somar na vida de algumas pessoas e, consequentemente, na minha também. Essa coisa de “ajudou a construir o meu caráter” ou “cresci com vocês” é um feedback que, no final das contas… os cachês vão ser gastos e a vida vai passar, e isso aí é o que fica. Olho minha filha crescendo e penso: o dia que não estiver mais aqui, se o pai dela fizer uma coisa que somou, acho que já vai ter valido a pena. Mas tem um outro lado. Forfun tem uma mensagem muito de esperança, ideia de união e coletividade, até um pouco ingênua. Surgiu num momento histórico não só do Brasil ou do mundo que havia mais esperança, mas o que a gente vê hoje, você fala assim: “Mermão, não deu certo” (risos). É óbvio que uma banda não muda o mundo.
Talvez estivessem plantando uma semente…
Com certeza. Mas é meio frustrante. É uma sensação às vezes de enxugar gelo. Está tudo muito doido. Era 2005 e estávamos falando de aquecimento global e olha o que está rolando agora. Tudo bem, a turnê do Forfun vai acabar, mas seja nos meus trabalhos ou seja o que for, a esperança vai continuar sendo a tônica.
Tu já tinha a convivência com os outros dois integrantes no Braza, mas como tem sido a reaproximação com o Rodrigo? E de vocês todos como Forfun?
Às vezes as expectativas são piores do que acaba sendo. Nesse caso, pensamos que vamos chegar com muitos “não-me-toques”, mas não. Está todo mundo imbuído de fazer uma coisa legal até o fim. Quando tem data para acabar, a coisa fica mais leve. O objetivo nunca foi voltar indefinidamente. É uma turnê que acaba em novembro. Podemos receber outras propostas e avaliar. Mas a ideia é essa por agora. E está tudo tranquilo, vamos ficar com a parte boa das relações. Nunca deixamos de ser amigos por mais que tenha se afastado e tido menos afinidade. Mesmo dentro do Braza, as nossas relações eram diferentes de cinco ou 10 anos atrás. Somos todos amigos, mas as relações vão se transformando.
Tem o fator amadurecimento. Já fica mais calejado, ou, como a gente diz por aqui no RS, “não cai em qualquer pilha”.
Exatamente! Você já releva coisas que antes “encucava”. É uma coisa que a idade traz. Não esquenta a cabeça com qualquer coisa. Está super numa boa, vai deixar saudade. Tem um aspecto também que acabei percebendo: não adianta você tentar romantizar ou esperar uma coisa hoje em dia que seja a mesma de 20 anos atrás. Não vai, é outro momento, somos outras pessoas. Não adianta achar que vai haver o mesmo sentimento em torno da banda. É saber lidar com isso e também entender que as coisas se transformam.
Há momentos da turnê que vocês trazem pelo menos trechinhos de músicas lá da adolescência, tipo Minha Formatura, Melhor Bodyboarder da Minha Rua e Cara Esperto. Como é reencontrar essas canções hoje em dia? Que significado elas ganham?
Isso era uma das maiores questões até topar fazer a turnê. Cada um lida de um jeito. Essa coisa já foi uma questão para mim, ainda com a banda ativa, quando estava chegando aos 30 anos. Quando começamos tínhamos 17. Com 32 anos, tua cabeça é muito diferente. Mas é muito doido lidar com essa pessoa que você foi no passado, a música também é um recorte. Às vezes é muito conflitante. O cara 30 não quer ser lembrado pelas coisas que ele dizia ou pensava aos 18. Natural tu querer mostrar teu amadurecimento. Mas foi uma questão que cada um foi trabalhando de seu jeito. Só que é aquela coisa de dar um passo para o lado e saber que há um distanciamento entre obra e artista. Tive uma terapeuta que me falou uma parada que foi um divisor de águas: o que as pessoas pensam sobre a banda que você toca não é o que elas pensam sobre você. No limite da história, o que as pessoas pensam sobre você não é o que você é. Hoje, com todos na faixa dos 40 anos, em uma música como Minha Formatura, existe um distanciamento artístico: isso não sou eu. No final das contas, aquilo ali causa nas pessoas um impacto que traz bons sentimentos, seja de nostalgia ou de reflexões para hoje.
Houveram algumas atualizações nas letras, não? Por exemplo, “Seu namorado é um boy lixão”.
A gente sempre fez atualização. Muito fã já reclamou, paciência. O público pode cantar como quiser. Entendo a arte de uma forma fluída. “Seu namorado é um boy lixão” surgiu no ensaio de brincadeira é um termo de hoje em dia, que tá em voga. De certa forma dá um verniz contemporâneo. Essa música é tão adolescente, tão ingênua e lá do começo, que se você parar para pensar, ainda se aplica aos dias de hoje. O cara está falando para a menina que o namorado dela é mó vacilão, mesmo. Estereotipando essa questão do boy lixo, trazendo à tona várias questões como machismo e misoginia. É uma música que pode ser ressignificada.
Como você avalia a relação do Forfun com Porto Alegre?
Lembro de olhar as métricas de plataformas digitais, e as cidades que tínhamos mais público eram Rio e São Paulo, mas logo na sequência era Porto Alegre. Teve anos que a gente fazia tanto show em POA como no Rio. Tem uma identificação grande do Forfun com o Rio Grande do Sul. Temos um carinho muito grande. Talvez fora Rio-SP é a cidade que mais abraçou a banda na história. Acho que POA tem um lance culturalmente interessante que acaba batendo com a ideia e a estética da banda. Apesar de não ser uma cidade de praia, tem uma coisa do estilo de vida que bate. Essa coisa do Marinha, da beira do Guaíba, que tem a ver com a proposta. A gente sente essa identificação.
Este show do Forfun em Porto Alegre estava previsto para ser em 28 de junho, mas, por conta da enchente, foi remarcado para este mês para o Pepsi on Stage, com duas apresentações. Só que a data extra foi cancelada. Pode falar um pouco sobre essas alterações e o porquê do cancelamento?
Obrigado pela pergunta e até é bom para a gente fazer um esclarecimento. Muitas vezes essa confusão de logística, como mudança de data e local, gera muita especulação. Cancelar show é a pior coisa que rola. É um prejuízo financeiro e moral. No caso dessa turnê, acho que a gente deu uma superestimada na demanda. Forfun é uma banda enorme, tenho muito orgulho disso. Mas, por tanto tempo sem tocar, a gente projetou uma demanda que é muito grande, mas que a gente superestimou em alguns lugares. Pensamos em fazer o Passo D’Areia e logo no primeiro mês vimos que estava grande demais. Adequamos para o Pepsi. Quando veio a enchente, os ingressos estavam quase esgotados. Já que Porto Alegre passou por um trauma, vamos abrir uma outra data. Até como uma forma de fazer uma celebração. No entanto, a segunda data não foi bem. A produtora da turnê, em comum acordo com a gente, achou por bem que valia mais a pena preservar, já que poucas pessoas iam se sentir lesadas, mas poderiam ter o dinheiro de volta e poderiam ir na sexta, do que entregar um show aquém do que a turnê merece. Tem uma frase do Jorge Benjor que acho maravilhosa: “Melhor um passo atrás com dignidade do que ficar com o filme queimado”. Foi o que aconteceu em POA. Não estamos fazendo a segunda data porque não deu certo. Uma pena. Desculpa quem tinha comprado o ingresso. Adoraríamos fazer uma segunda data, mas não deu.
Teve outras datas canceladas em outras cidades, né?
Tivemos cancelamentos em Belém e em Manaus pelo mesmo motivo que Porto Alegre. A gente podia ir fazer num lugar para duas mil pessoas, mas não íamos conseguir manter o padrão da turnê. Daí é uma decisão que não cabe só a banda, a gente tem uma produtora que é sócia na história toda, precisamos gerenciar as opiniões e chegar num denominador comum. Melhor dar um passo atrás e ir numa próxima, do que forçar uma barra. Sentimos muito por quem queria ver. Pode ter certeza que ficamos frustrados.
Falando nisso, Porto Alegre é o antepenúltimo show da turnê Nós. Ainda tem São Paulo e Rio. Ontem, saiu a notícia que o show que ia rolar no Engenhão será adiado por conta do jogo do Botafogo. Como está a situação?
Estourou essa bomba essa semana. O estádio tem dono, precisamos remanejar. Terei uma reunião ainda hoje para saber o que vai acontecer. É o grand finale, tem quase 30 mil ingressos vendidos. Troço gigante. Vamos ter que dá um nó em pingo d’água. É difícil, envolve futebol e muita paixão no Brasil. Fui dormir duas e meia da manhã pensando no que fazer. Como muita gente não tem noção do que é produzir um show, como se dão essas logísticas, as pessoas acham que as coisas podem se dar ao bel prazer do artista. “Botafogo quer fazer o jogo, que faça e se dane meu público”. Não é isso. Tem coisas que fogem da sua alçada. Estamos tentando encontrar uma solução e vamos encontrar. Porque essa turnê merece ter um final condizente com o que tem sido.
Finalizada a turnê, o que vem aí em relação ao Forfun?
A ideia não é lançar mais nada de estúdio em relação ao Forfun. Para abril do ano que vem, devemos lançar um disco novo do Braza. Está pronto. Nossa ideia é voltar para a estrada com esse álbum. Sinceramente, não temos previsão (disco ou faixa de estúdio), não é uma coisa que estamos pensando, aí é com a vida, com Deus.
Quem sabe, um registro audiovisual da turnê?
Isso é bem possível. A gente filmou muita coisa. Pode sair alguma coisa de registro, com a quantidade de material que a gente gerou, vale a pena. Agora, em termos de nos juntar para compor, isso com certeza não. Em termos de haver outra turnê, aí realmente não sei. Depende de muita coisa. Agora rolou e deu certo. Daqui um tempo, não sei. Pode ser que sim ou não.
Forfun em Porto Alegre
- Quando: nesta sexta-feira (8), às 22h
- Onde: no Pepsi On Stage (Av. Severo Dullius, 1.995)
- Ingressos: não há mais ingressos disponíveis, de acordo com o site da Eventim
*Colaborou Letícia Costa