Se baterias, baixos e guitarras vão demandar esforço das bandas que subirem e descerem dos palcos do Rock In Rio 2019, um grupo de Porto Alegre chegará ao festival com uma única missão: estar com as vozes afinadas.
Em 34 anos de Rock in Rio, o Voice In será a primeira atração a capela, técnica que se apoia unicamente nas vozes dos integrantes. Cada um dos cinco membros do grupo tem papel fundamental na harmonia da música, de forma a tapar buracos deixados pela ausência de instrumentos.
Enquanto o tenor Rafael Strey, 27 anos, e as mezzo-sopranos Débora Neto, 22, e Ariane Wink, 23, assumem o que seria a função dos vocalistas em uma banda, a voz de Felipe Andrade, 25, simula o som de um baixo e a de Luiz Kremer, 23, o da percussão — os "pa-pum" feitos pela voz, boca e nariz são chamados de beatbox no hip hop.
— Todos cumprem sua função na harmonia da música. Todos estão sempre cantando. Ninguém para. O Luiz e eu somos a base: eu dou o tom e ele dá o tempo. A Ariane, o Rafael e a Débora complementam a harmonia — explica Felipe, que também é o arranjador.
Criado em igrejas e acostumado a cantar em corais, Felipe estava à procura de parceiros que aceitassem fundar um grupo a capela desde 2009. Queria apenas uma inovação: que a proposta se afastasse da música gospel a qual a técnica ficou conhecida e se inspirasse em grupos como o Pentatonix, dos Estados Unidos, que une as vozes dos integrantes para cantar sucessos de estrelas do pop. Acabou enfrentando dificuldades, já que, no Brasil, o estilo à capela é mais comum em grupos de jazz e bossa nova.
Foi pela internet que encontrou os integrantes da atual formação do Voice In, estabelecida em 2016, e também foi a onda virtual que cria oportunidades que levou o grupo até os organizadores do Rock In Rio. Com vídeos do quinteto reinterpretando hits de Anitta e Ed Sheeran tornando-se virais, a diretora artística do festival, Marisa Menezes, os escolheu para se apresentarem durante todos os dias no Rock District, uma área especial do evento. Para agradar aos roqueiros, a seleção de músicas do Voice In sofrerá ajustes.
— Estamos fazendo um repertório especial, com músicas novas. Vamos colocar alguns clássicos do rock e tentar fazer uma conexão com os artistas que estiverem tocando a cada dia — garante Débora Neto.
Ainda que o convite tenha sido feito pelo festival em setembro do ano passado, dando tempo ao grupo para se acostumar à ideia, a responsabilidade de estar entre grandes atrações de um dos maiores festivais de música do mundo gera ansiedade.
— Foi um choque, uma surpresa gigantesca. Foi inacreditável. Ainda é. A gente precisa estar lá para ter certeza de que está acontecendo — confessa Débora.