O que era brincadeira virou música. Canções que viraram um disco entre amigos. Vieram os 3,5 milhões de álbuns vendidos em 2002, número chamativo quando se lembra que, na época, o download ilegal e a venda de CDs piratas abocanhavam a indústria fonográfica. Mas o disco d’Os Tribalistas não virou show. O filho mais velho de Marisa Monte, na época, tinha um mês de vida. Arnaldo Antunes tinha 10 anos de carreira solo depois dos Titãs. Carlinhos Brown tinha seu trabalho social no Candeal, em Salvador, premiado pela Unesco e lançaria, no ano seguinte, Carlito Marrón, álbum que chegou primeiro à Espanha.
Nas entrevistas posteriores àquele 2002 e 2003 (quando foram indicados em cinco categorias do Grammy Latino e levaram o prêmio de gravação do ano por Já Sei Namorar), provavelmente Marisa, Carlinhos e Arnaldo ouviram a mesma pergunta: "E os Tribalistas?". Voltaram, de surpresa, no ano passado, com um segundo disco (também chamado Tribalistas), mas nada de shows.
Chegou o momento de o projeto ganhar os palcos. Com pompa e tamanho de turnê de banda gringa, em estádios e arenas por nove capitais do País. A estreia foi no sábado em Salvador, na Arena Fonte Nova. A turnê inclui apresentações em São Paulo (18 de agosto, Allianz Parque), no Rio de Janeiro (3 e 4/8) Recife (10/8), Fortaleza (11/8), Porto Alegre (24/8), Curitiba (25/8), Brasília (1º/9) e Belo Horizonte (7/9).
O que mudou para que os Tribalistas ganhassem corpo e o palco? Marisa diz:
– Artisticamente, isso existiu. Somos três pessoas diferentes, com suas próprias dinâmicas de vida. Às vezes, as circunstâncias vão além do desejo.
Para Fabiana Batistela, diretora da Semana Internacional de Música de São Paulo, o fim do comando das gravadoras sobre os artistas foi o primeiro passo dessa mudança: – Os artistas passaram a ter mais controle sobre suas carreiras.
Marcus Preto, jornalista e produtor musical que trabalhou com discos e shows de Gal Costa (inclusive no projeto de apresentações da cantora ao lado de Nando Reis e Gilberto Gil chamado Trinca de Ases), lembra que a união de forças de artistas "é um formato antigo, já bem comum nos anos 1970". Ele cita uniões como as de Caetano Veloso e Chico Buarque, Caetano e Maria Bethânia, Chico e Bethânia, Ângela Maria e Cauby Peixoto e os Doces Bárbaros (formado por Gil, Caetano, Gal e Bethânia):
– E só estou falando dos encontros que viraram LPs antológicos. Hoje, para muito além de unir forças para vender ingressos, o que eu vejo nessas junções é um desejo de chamar a atenção do público para a música. O público de música está disperso.
O SHOW
Uma semana antes de estrear em Salvador, os Tribalistas se apresentaram em um formato pocket show no Fantástico, programa dominical da Globo. Ao fim de Aliança, faixa do segundo disco, o trio e o público presente no estúdio cantaram os últimos versos à capela. "O que é lindo para a gente é que essa é a primeira vez que ouvimos o público cantando essa música", diz Marisa.
E esse deve ser o sentimento dessa primeira turnê dos Tribalistas. De primeiros encontros do público com as músicas dos dois álbuns. O trio, no palco, estará acompanhado por Dadi Carvalho (baixo, guitarra e teclados), Pedro Baby (violão e guitarra), Pretinho da Serrinha (cavaquinho) e Marcelo Costa (bateria).
A preparação para a turnê começou no início do ano. Os ensaios mais intensos, todos os dias da semana, tiveram início em maio. "Vivemos em uma comunhão musical entre nós", diz Marisa, "e agora vamos viver isso com o público."