Para uma excursão por locais importantes da cena roqueira de Porto Alegre, quem seria o guia turístico mais indicado? Quem poderia relatar visceralmente suas vivências musicais e presepadas em cada canto? Quem já participou do reality show A Fazenda? Edu K, ora bolas. Preenchendo todos os requisitos citados, o ex-vocalista do DeFalla foi o anfitrião do POA Rock City Bus Tour, atividade paralela ao V Congresso Nacional de Comunicação e Música (Comúsica) – evento acadêmico realizado este ano na Unisinos.
O passeio foi realizado na manhã de terça-feira (1) e partiu do Bar Van Gogh, na Cidade Baixa. Montado como drag queen, com vestido e salto 16, Edu K guiou um público de cerca de 20 pessoas, formado em boa parte por pesquisadores de outros Estados participantes do Comúsica.
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– Vocês não pagaram para vir aqui e ouvir falar de coisas sérias – alertou o músico no início da viagem.
Na largada, Edu K fez sua apresentação peculiar do Van Gogh.
– Era o lugar onde a gente acabava a noite. Acontecia de tudo: tomava uma sopa de capeletti e vomitava na cara do garçom, trepava embaixo das mesas (risos). Toda a galera do cinema, teatro e música se encontrava aqui e trocava muita informação. Isso gerou muita oportunidade na época – detalhou.
Uma experiência íntima relacionada ao Van Gogh não foi omitida pelo guia.
– Foi palco da minha primeira brochada – revelou Edu K, que a seguir contou uma história sobre sair do estabelecimento com uma amante e iniciar um ato sexual na porta de uma casa nas proximidades. Porém, os ânimos esfriariam ao serem flagrados pelo idoso que morava no local. No dia seguinte, o músico deparou com uma pichação em uma porta ao lado do Bar Lola: "Edu K brocha". Ao ver o recado, ele não teve dúvidas de sua primeira providência: ser fotografado ao lado da mensagem.
O ônibus seguiu pela Rua Lima e Silva, que teve alguns de seus estabelecimentos introduzidos por Edu K e os integrantes da organização do evento – Carol Govari Nunes, Paola Sartori e Marcelo B. Conter – no trajeto, sendo lembrado até o supermercado Zaffari, onde "os emos se encontravam". A vida noturna da rua foi comparada com a efervescência da Avenida Osvaldo Aranha dos anos 1980. Mas uma diferença foi apontada pelo guia veterano:
– Na época, todo mundo se misturava na Osvaldo: punk com metaleiro, roqueiro ficando patricinha...
Na João Alfredo, mais estabelecimentos foram rapidamente mencionados – como Margot, Batemacumba e Ossip –, e Edu K destacou:
– Isso (bares citados) é só uma parte do que rola aqui. O que acontece aqui é na rua, nas aglomerações.
A excursão fez uma única e rápida parada na Usina do Gasômetro. Depois passou pelo Viaduto da Borges, onde foi lembrado que ali foi rodado o clipe de Nicotina, de Os Replicantes, e que foi cenário para foto de disco da TNT.
Durante o trajeto, Edu K foi contando causos de sua carreira, como a participação do DeFalla no Hollywood Rock, em 1993, no qual ele entrou pelado no palco com uma meia cobrindo a genitália. Entre as histórias, o músico falou sobre o Popozuda Rock'n Roll, que misturava funk carioca com o rock. Segundo Edu K, a canção não foi aceita tanto por funkeiros quanto pelos roqueiros. No entanto, a faixa marcou presença em uma lista do jornal americano The New York Times com 30 músicas brasileiras essenciais do país, que colocou o Defalla ao lado de nomes como Chico Buarque, Noel Rosa, Tom Jobim, entre outros.
– Chupa – pontuou o cantor resumindo seu sentimento de vitória.
Edu K também comentou sobre sua participação no reality show A Fazenda, da Record, onde ficou somente duas semanas:
– Era um filme de zumbi ao contrário. Todo mundo evangélico e sertanejo, e eu zumbi.
O ônibus passou ainda pela Independência – com locais como a Funhouse, Beco, Garagem Hermética, Bambus e Cabaret sendo citados – e estacionou no Bom Fim. Ao descerem do veículo, os participantes puderam vivenciar a letra de Amigo Punk, da Graforreia Xilarmônica, atravessando a Osvaldo Aranha e chegando ao Parque Farroupilha. Por fim, a parada final, no Ocidente.
Valorização da memória cultural e stand-up
Para Edu K, a experiência como guia turístico foi positiva.
– Você vê em Nova York e outras cidades, ontem tem galera da cena de música, como Henry Rollins (cantor e comediante que integrou a lendária banda punk Black Flag) faz tours, e ele também faz stand-up. Fiz os dois nesse passeio, porque sou um idiota e qualquer coisa que falar vai ser um material para stand-up, ao mesmo tempo fui contando coisas que aconteceram aqui – analisou.
Marcelo B. Conter, integrante da coordenação do 5º Comúsica, destacou que esse tipo de tour cultural é bastante realizado na Inglaterra:
– Se você vai para Manchester, há aqueles selos nas casas: "aqui nasceu Morrissey". Tu vais a Liverpool, e há o selo "nessa casa nasceu e viveu John Lennon". Aqui a gente não tem essa memória. Então é uma forma de mostrar que é possível fazer isto aqui também.