O ilustrador brasileiro Joe Bennett está mais uma vez sob escrutínio público. Desta vez, ele sofreu duras críticas do roteirista da Marvel Al Ewing, parceiro do artista na série de quadrinhos O Imortal Hulk, por um desenho de 2017. Na peça, é retratado um personagem, que na interpretação de Al Ewing, seria Jair Bolsonaro, esmagando seus inimigos que carregam vários estereótipos ligados ao povo judeu.
"Estou presumindo que esses sejam inimigos políticos de algum tipo, mas mesmo que não sejam, os tropos são aparentes. Seres humanos como vermes sendo exterminados", escreveu Al Ewing no Twitter. "Mesmo que não esteja mais disponível, o fato de ter sido desenhado em primeiro lugar, assinado e exibido com tanto orgulho por Joe, fala por si."
Bolsonaro, na época, era pré-candidato à Presidência. Na imagem, aparece um homem de armadura pisoteando versões minúsculas de seus oponentes políticos, representados com orelhas de rato e narizes grandes. A imagem, que não está mais disponível nas redes sociais de Bennett, emergiu nos últimos dias, em prints publicados por leitores de quadrinhos.
"O Imortal Hulk acabou, mas não vou trabalhar com Joe novamente. Se as pessoas decidirem não retomar meu trabalho com outros artistas no futuro com base no modo como lidei com isso, eu entendo e aceito. Se eu perdi sua confiança, é culpa minha", afirmou Al Ewing.
Ele também se desculpou por não ter se pronunciado antes sobre os posicionamentos do brasileiro. Segundo seu relato, ele já havia criticado o artista em espaços privados.
"Eu falei nos bastidores, mas isso não é consolo para as pessoas feridas por este tipo de propaganda brutal. Minha falta de posicionamento público sobre isso decepcionou as pessoas, e peço desculpas."
Não é a primeira vez que Bennett é acusado de antissemitismo. Em fevereiro deste ano, ele precisou se desculpar publicamente por uma ilustração no volume #43 de O Imortal Hulk. No desenho, Bruce Banner aparece em uma joalheira identificada por uma estrela de Davi na vitrine, em que também é possível ler "Cronemberg's Jewery". O termo "jewery", que estaria relacionado ao estabelecimento ("jewelry" é a palavra em inglês para joalheria), é utilizado nos Estados Unidos para identificar, com uma conotação negativa, judeus ("jews").
Após muitas críticas, Bennett declarou que tudo não passava de um mal-entendido. "Tenho incluído referências a diretores de terror famosos para prestar homenagem ao gênero ao longo da série e em Immortal Hulk #43 incluí um aceno de cabeça para David Cronenberg", escreveu em seu perfil no Facebook. "Os erros ortográficos na vitrine foram um erro honesto, mas terrível — como eu estava escrevendo ao contrário, acidentalmente soletrei ambas as palavras erradas."
Ao portal especializado CBR, a Marvel reconheceu que errou ao publicar a ilustração e afirmou que novas edições e edições digitais da obra seriam editadas para remover o desenho em questão. Sobre o novo caso, a empresa ainda não se pronunciou, tal como o ilustrador.
Bennett deve retornar ao selo em dezembro, inclusive, na nova série de quadrinhos Timeless, segundo anúncio da Marvel na última terça-feira (31). O ilustrador já trabalhou com a Marvel em inúmeras ocasiões, ao longo dos anos, em histórias dos Vingadores, Homem-Aranha e Elektra.
Leia a declaração completa de Al Ewing:
Há uma imagem circulando que Joe Bennett desenhou em 2017. Não vou publicá-la, mas já a vi, e é repreensível. Se você viu a imagem, sabe o que é. Um espadachim de armadura — que, eu presumo, representa Bolsonaro, segundo o comentário de Joe — aparece massacrando pessoas minúsculas, com dentes salientes e orelhas de rato. E narizes grandes. Um deles está fazendo cosplay de Drácula.
Estou presumindo que esses sejam inimigos políticos de algum tipo, mas mesmo que não sejam, os tropos são aparentes. Seres humanos como vermes sendo exterminados. Mesmo que não esteja mais disponível, o fato de ter sido desenhado em primeiro lugar, assinado e exibido com tanto orgulho por Joe, fala por si.
Este não é o primeiro problema com Joe de que tenho conhecimento. Eu falei nos bastidores, mas isso não é consolo para as pessoas feridas por este tipo de propaganda brutal. Minha falta de posicionamento público sobre isso decepcionou as pessoas, e peço desculpas.
No interesse de adicionar alguma ação material a esse pedido de desculpas, fiz doações para Rainbow Railroad e Rainforest Trust. Eu entendo se isso parece um gesto vazio ou insuficiente para quem está lendo.
Immortal Hulk acabou, mas não vou trabalhar com Joe novamente. Se as pessoas decidirem não retomar meu trabalho com outros artistas no futuro com base no modo como lidei com isso, eu entendo e aceito. Se eu perdi sua confiança, é culpa minha.
Não posso falar por Joe. Ele pode falar sobre isso por si mesmo. Mas direi que não cabe a ele — ou a mim — o que aqueles que foram feridos por seu comportamento no passado devem estar dispostos a aceitar dele agora. Ele fez sua cama.
Com tudo isso dito, provavelmente vou ficar fora do Twitter por enquanto, e não vou ler ou responder às menções por um tempo. Novamente, se isso parecer insuficiente, eu entendo. Obrigado por ler.