Paulo de Moraes e Jopa Moraes, pai e filho, os dramaturgos responsáveis pelo espetáculo Inútil a chuva, começaram a pensar na história da peça a partir da imagem de uma família incompleta que navega em um barco à deriva.
A parte que falta é o pai, um pintor de quadros que desapareceu após escrever uma carta de suicídio – não se sabe se ele fugiu ou se matou, mas a certeza é que essa ausência acaba por levar os membros restantes da família a navegarem, tanto no sentido real quanto no metafórico. A peça faz parte do 23º Porto Alegre em Cena e tem sessões nesta segunda e terça, às 21h, no Teatro da Santa Casa (Independência, 75), com ingressos a R$ 80.
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A questão formal tem ainda outra camada importante na concepção de Inútil a chuva: a peça é dividida em oito momentos, todos eles construídos, conceitual e visualmente, com base em uma obra de arte do patriarca. A partir daí, os personagens constroem relações que vão ajudando o espectador a entender a personalidade e a importância do membro que falta na família.
– A presença deste cara desconhecido é uma questão formal na peça. Ele é um pintor totalmente desconhecido, mas suas pinturas estão guardadas nas mentes e nos corações das pessoas que passam pela peça. Os oito quadros surgem em cena como se fossem a fulguração desse cara e do que ele fez. As imagens se materializam em cena, não só como um quadro pintado, mas nos diálogos, na música, na cor do cenário, no contraste entre os elementos. A ideia é materializar a figura por meio da forma – explica Paulo de Moraes, diretor e escritor da peça e fundador da Armazém Cia. de Teatro.
Pensada a partir de uma investigação estritamente formal, Inútil a chuva acaba por levantar discussões mais profundas, que vão desde o valor da arte ao legado que uma pessoa pode deixar em vida. O dramaturgo conta que a peça demorou para ser concluída, o que ajudou a sedimentar os questionamentos no texto:
– Como é que o que você produz se conecta com seu tempo? E com as pessoas? Qual é o lugar da sua arte em um mundo cada vez mais utilitário? Para que ela serve? A impressão é de que a arte quer olhar a vida de uma perspectiva sempre nova, mas o mundo se importa cada vez mais em encontrar uma utilidade para isso – diz Moraes.