Ainda Estou Aqui, novo longa de Walter Salles, chegou aos cinemas brasileiros na quinta-feira (7). Protagonizado por Fernanda Torres, o filme leva às telas a história da família Paiva, que precisou lidar com o desaparecimento do patriarca, Rubens Paiva.
Inspirado no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva, o longa narra a história da mãe do autor, Eunice Paiva. A paulista teve seu marido, interpretado por Selton Mello no filme, preso e morto pela ditadura militar em 1971, no Rio de Janeiro.
Rubens deixou cinco filhos — entre eles, Marcelo —, com idades entre 10 e 18 anos, que foram criados pela mãe. Viúva, Eunice Paiva (Fernanda Torres/Fernanda Montenegro) passou a dividir o tempo de trabalho com a dura luta por justiça pelo desaparecimento e morte do marido.
Quem foi Rubens Paiva?
Nascido no litoral paulista, na cidade de Santos, Rubens Beyrodt Paiva (1929-1971) se formou em engenharia civil pela universidade Mackenzie no ano de 1954. Durante os estudos, deu início à carreira política, tendo sido vice-presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE-SP).
Em 1962, Rubens Paiva foi eleito deputado federal por São Paulo pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Durante o mandato, o político participou de uma CPI para investigar as atividades do IPES-IBAD (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais-Instituto Brasileiro de Ação Democrática), que financiava ações que alertavam sobre a chamada "ameaça vermelha" no Brasil.
Por conta de seu envolvimento na CPI, Rubens Paiva teve seu mandato cassado em 1964, logo após o golpe, com base no AI-1. Antes disso, havia feito um discurso na Rádio Nacional criticando o apoio do governador paulista da época, Ademar Barros, à ditadura. Além disso, incentivou a população a defender a legalidade, o que foi visto como uma ameaça pelos militares.
Exílio
Sem mandato, Rubens Paiva chegou a se exilar na Iugoslávia e na França. Ele retornou ao Brasil nove meses depois, voltando a exercer a engenharia e até mesmo o jornalismo, fundando o Jornal de Debates e sendo diretor da Última Hora de São Paulo.
Sequestro e prisão
O patriarca da família Paiva foi preso depois que cartas de exilados políticos endereçadas a ele foram capturadas junto a pessoas que voltavam do Chile. Para levá-lo, seis homens identificados como da Aeronáutica invadiram sua casa armados com metralhadoras, sem um mandato de prisão.
Sem apresentar resistência, Rubens foi levado pelos agentes e nunca mais foi visto. Segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade, o político foi torturado no DOI e morreu no dia seguinte à prisão devido aos ferimentos.