Depois que a pandemia chegou ao Brasil, ainda no começo de 2020, muita coisa mudou. Neste ano, por exemplo, tornou-se impossível sair para pular Carnaval pelas ruas do país com os amigos. Mas isso não quer dizer que os entusiastas da folia não terão a chance de matar um pouco a saudade do maior evento cultural da nação — mesmo que seja da sala de casa.
Carnaval, o novo filme da Netflix, leva o público para a festa em Salvador, acompanhando a influenciadora digital Nina (Giovana Cordeiro), que descobre uma traição de seu namorado depois de assistir a um vídeo que viralizou na internet. Para superar o término, ela usa seus contatos para conseguir uma viagem — a famosa permuta — para curtir a folia ao lado de suas três melhores amigas na capital da Bahia.
Porém, ao mesmo tempo, Nina quer crescer em popularidade e alcançar a sonhada marca de um milhão de seguidores. Para isso, sujeita-se a passar por situações constrangedoras para conseguir a atenção de influenciadores mais famosos e, também, acaba descobrindo que o mundo perfeito pintado nos feeds das redes sociais, no final das contas, custa um preço alto e é muito mais vazio do que parece.
Além de Giovana, que vive a protagonista, o elenco principal também conta com a influenciadora digital GKay, Samya Pascotto e Bruna Inocencio. As quatro amigas, em uma temporada de autoconhecimento, são as condutoras do público pelas ruas de Salvador, mostrando os festejos carnavalescos, bem como a cultura, a culinária, a arquitetura e, até mesmo, a religião africana, abordando-a de maneira respeitosa e sensível.
Conseguir contar essa história, porém, não foi simples. A produção comandada por Leandro Neri esteve presente no Carnaval de Salvador no começo de 2020, pouco antes da pandemia ganhar força no país. No entanto, apesar de conseguir gravar as aglomerações tradicionais da festa, o diretor não teve tempo de finalizar todas as tomadas necessárias. As filmagens tiveram de ser interrompidas em março e retomadas em setembro, adaptando-se à nova realidade de protocolos e distanciamentos.
O resultado traz reflexões interessantes sobre o culto aos influenciadores digitais, a liberdade de ser quem se é e que as aparências enganam, além de ser um registro histórico do último Carnaval antes de uma pandemia que mudará o mundo para sempre. Será que os festejos, quando tudo isso passar, serão realizados da mesma maneira? Não existe uma resposta para essa pergunta, por enquanto.
Eficiente no que se propõe, o longa-metragem é um bom entretenimento e conversa com as novas gerações, trazendo mensagens importantes sobre a obsessão pela fama e por aceitação, além de ajudar os mais velhos a compreenderem melhor como as tribos digitais funcionam. Tudo isso regado com muita música. A estreia de Carnaval ocorre nesta quarta-feira (2), na Netflix.