A decisão da Agência Nacional do Cinema (Ancine) de remover os quadros com os cartazes de filmes brasileiros da sede do órgão, no Rio de Janeiro, e retirar de seu site informações sobre produções nacionais provocou a ira de artistas, cineastas e simpatizantes, que começaram um movimento nas redes sociais contra a ação.
Em forma de protesto, personalidades do cinema brasileiro começaram a postar cartazes de filmes nacionais clássicos ou de produções em que atuaram ou trabalharam. As atrizes Tatá Werneck, Camila Pitanga, Isis Valverde e Claudia Abreu foram alguns dos nomes que exaltaram em seus perfis no Instagram capas de longas feitos no Brasil, pedindo a defesa do cinema brasileiro.
Além de atores, diretores e roteiristas também se manifestaram. O cineasta gaúcho Jorge Furtado considera a ação da Ancine um projeto de destruição do que foi feito até agora. Entre seus filmes mais conhecidos, estão O Homem que Copiava (2003), Meu Tio Matou um Cara (2004) e Saneamento Básico (2007), além do telefilme Doce de Mãe (2012), que consagrou Fernanda Montenegro como a primeira atriz brasileira a vencer um Emmy Internacional – a atração virou série da Globo em 2014, premiada com o Emmy Internacional de Melhor Comédia.
—Esse governo não tem proposta de produzir nada, nenhuma ideia do que fazer com a cultura, apenas a ideia de destruir o que foi feito, apagar a memória do cinema e atacar a produção cinematográfica. É um projeto de destruição e uma provocação também. Mas ninguém foi enganado, o projeto desse governo é esse e todo mundo sabia — afirmou Furtado a GaúchaZH.
Por e-mail, o diretor Fernando Meirelles afirmou que sua produtora, a O2 Filmes, irá ajudar a engrossar o movimento de postagem em massa de cartazes de filmes brasileiros nas redes sociais. O cineasta foi categórico sobre o assunto.
— Pessoalmente resolvi parar de ler notícias sobre as patetadas diárias do governo e os comentários a respeito. Ignorar e tocar a vida tem sido minha arma — resumiu Meirelles, que está fora do Brasil para a estreia de Dois Papas, seu filme com Anthony Hopkins e Jonathan Pryce, nos cinemas a partir desta quinta (5) e na Netflix no dia 20.
O cearense Armando Praça, diretor de Greta (2019), filme com Marco Nanini, considerou a simbologia do ato bastante violenta.
— Remete a ideia de censura, como se aqueles filmes não pudessem ter existido, ou não devam mais existir. Como se o cinema brasileiro tivesse que existir a partir de agora de um outro jeito, mas só há um jeito da arte, seja ela qual for, que é livre, diversa — comentou o cineasta.
Entenda a polêmica
Os mais de cem quadros, com moldura e vidro, estavam instalados nos prédios da Ancine desde 2002, uma iniciativa do primeiro presidente da agência, Gustavo Dahl. A ideia era mostrar os pôsteres de longas nacionais em cartaz. Assim como ocorre em um cinema, periodicamente eles eram trocados, porém alguns filmes clássicos e que marcaram época tinham seu lugar fixo nos corredores do prédio, como é o caso de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha,
O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla, e Cabra Marcado para Morrer (1984),
de Eduardo Coutinho.
Todos eles acabaram removidos após decisão da atual direção do órgão e hoje estão em um depósito, no centro do Rio de Janeiro. Além disso, dados de filmes nacionais que, até então, estavam disponíveis no site da agência, foram removidos da página. A Ancine afirma que resolveu "priorizar sua área reguladora em relação à de fomento ao cinema e, por uma questão de isonomia, optou por não divulgar mais nada nos prédios da sua sede".