Nascido em Porto Alegre e radicado em São Paulo, Thalles Cabral, ator e músico de 24 anos, protagonista de Yonlu, filme que estreia hoje, compartilha com o seu personagem o gosto pela composição.
Em 2017, lançou seu primeiro disco, Utopia, com 11 faixas cantadas em inglês e influências de Radiohead e Elliott Smith, que também reverberam no trabalho de Yonlu. Três canções de Utopia viraram clipes dirigidos pelo próprio Thalles: You, The Ocean and Me, Sad Boys Club e Just When We Were High.
Na época da sua estreia com o EP That's What We Were Made, em 2013, Thalles despontou como ator na novela Amor à Vida, da Globo – no papel de Jonathan, filho de Félix (Mateus Solano) e Edith (Bárbara Paz). Estrelou também a série Manual para se Defender de Aliens, Ninjas e Zumbis, do canal Warner, e participou de dezenas de peças. Em entrevista a Zero Hora, ele conta como foi atuar em Yonlu.
Como foi sua preparação para Yonlu?
Tive acesso a arquivos pessoais dele, algumas fotos, as que ele fez e as que também aparece, que são bem poucas. É curioso ver que em cada foto ele parece uma pessoa completamente diferente da outra. Somos muitos, vi umas fotos dele para entender isso, o lance físico, como se comportava.
De certa forma, sua música dialoga com a do Yonlu?
Eu me identifico naturalmente com ele. Têm alguns aspectos que ele levanta sobre a sociedade que falo: "Meu, é isso, sabe". Era um garoto muito inteligente, muito sagaz para a idade dele. Sentia o mundo de uma outra maneira, muito sensível. A música é universal, não tem como não se identificar com as letras, as composições, acho as melodias muito boas.
Há sequências no filme que são bastante delicadas e um tanto sombrias. Quais foram as dificuldades emocionais que você enfrentou neste trabalho?
Não tinha uma cena em que não entrasse no set e não pensasse que aquilo foi real. Que aconteceu de fato. Isso me pegava num lugar bem delicado. A cena final (o suicídio), em que ele está transitando do banheiro para o quarto, foi uma que me exigiu mais. Mas não tive tanta dificuldade quanto uma cena no quarto, na qual o personagem está pintando, pois naqueles momentos eu me identificava: "Eu faço isso". Tanto outros jovens fazem o mesmo. Ele fazia coisas e passava por questionamentos que qualquer um passava na idade dele. Isso me tocava muito, era muito delicado.
Há uma cena em que o personagem senta à mesa com os seus pais e tem uma conversa com toda a naturalidade, porém seu suicídio já estava planejado. Como foi fazer esse momento?
Ele era muito inteligente emocionalmente. Entendia o ser humano de maneira muito esperta para um garoto da idade dele. Então, é claro que não daria margem a isso. Se a gente está falando de um artista tão inteligente, com referências, não seria ali que ele deixaria tudo evidente, entregaria tudo. Isso é uma das maiores tristezas da história. A gente já sabendo o final da história, aquela cena tem um peso tão grande. Quando ele fala que quer ir a um show, demonstra ter planos para o futuro. Quando fala do tratamento de pele para a sua mãe, indica aos pais que está se cuidando: "Olha, como dou importância para o meu corpo". Não é o tipo de coisa que você pensaria de um garoto que vai se matar.
De que maneira o filme te impactou?
Sempre fui um garoto sensível. Mas o filme me abriu para um outro mundo. Para me colocar mais no lugar do outro. A gente se relaciona com pessoas muito próximas e nem imagina as coisas por que estão passando ou sentindo. Falta conversa e comunicação. Não se deveria ter vergonha de falar sobre isso. Por isso que a gente tem de expressar o que sente e conversar com quem a gente ama. Cresci muito como pessoa nesse filme.
Como os fãs de Yonlu reagem ao filme?
A repercussão tem sido muito boa. Durante a produção do filme, muita gente me dizia que estava feliz por eu ter sido escolhido para interpretá-lo. Tinha uma pressão. Mas como conhecia a história e tinha carinho e respeito por ela, acho que foi um trabalho muito genuíno da minha parte.