Porto Alegre volta a receber a partir desta quinta-feira, depois de 10 anos, a mostra itinerante do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, o mais importante evento dedicado ao gênero na América Latina. As sessões, com entrada gratuita, serão realizadas na Cinemateca Capitólio (Demétrio Ribeiro esquina Borges de Medeiros).
A programação com 11 títulos tem entre os destaques o longa-metragem gaúcho Cidades Fantasmas, de Tyrell Spencer, vencedor da competição nacional. Outra produção do Rio Grande do Sul abre a mostra, com sessão às 20h desta quarta-feira: Quem É Primavera das Neves, de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo.
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A seleção de filmes enviada à Capital ilumina narrativas sobre a reconstrução e a permanência das memórias e conta ainda com o polonês Comunhão, eleito o melhor longa da competição internacional, e o chileno Los Ninos, vencedor na competição latino-americana. Também será apresentado o novo trabalho de João Moreira Salles, No Intenso Agora, que teve lançamento mundial em fevereiro, no Festival de Berlim. Salles participou da edição de 2007 na cidade com seu aclamado Santiago.
Quem é Primavera das Neves
A apresentação que dá nome ao filme nasceu com uma interrogação. "Quem é Primavera das Neves?", perguntou Jorge Furtado no seu blog em 2010. O cineasta via-se intrigado com a falta de informações sobre a dona do poético nome que assinava traduções para o português de autores como Lewis Carroll, Julio Verne e Vladimir Nabokov. Ao longo de 2013, Furtado começou a encontrar e a receber as informações que o conduziram ao encontro, no Rio de Janeiro, de duas amigas de infância de Primavera, que o levaram a conhecer – e a apresentar – uma personagem fascinante.
Dirigido em parceria com Ana Luiza Azevedo, o documentário reconstrói a vida breve e intensa de Primavera Ácrata Saiz das Neves (1933 – 1981). Filha de um anarquista português e uma sufragista espanhola exilados no Brasil dos regimes fascistas que tomavam conta da Europa, a menina cresceu em um ambiente de sólida formação política e cultural. Sua erudição e sua personalidade discreta e afetuosa ficaram impressas também nos poemas que não publicou e nos laços afetivos que cultivou. Produção para o canal Globo News, o documentário da Casa de Cinema exibe uma rica pesquisa em memórias vivas e de arquivo, espelhadas em fatos históricos emblemáticos do século 20. A atriz Mariana Lima costura a narrativa lendo trechos de clássicos vertidos por Primavera que são como páginas do diário de quem fez da paixão pelas palavras a razão de viver. Exibição: quarta, às 20h.
Cidades Fantasmas
Diretor egresso dos curtas-metragens, Tyrell Spencer apresenta em seu premiado longa Cidades Fantasmas o olhar de horizonte largo característico de quem nasceu na fronteira – Uruguaiana, 1987. Também uma produção da Casa de Cinema para a Globo News, o filme vencedor da mostra nacional do É Tudo Verdade conta histórias de tragédias e êxodos provocados pela força da natureza ou pela mão do homem. Spencer passeia por ruínas de cidades que, subitamente, passaram a existir apenas nas memórias de seus antigos moradores e em velhas fotografias: Humerstone, no Chile, erguida em torno de uma mina de salitre desativada; Armero, na Colômbia, povoado atingido pela erupção de um vulcão; a brasileira Fordlândia, no Pará, construída pela montadora americana Ford como sede de trabalhadores durante o ciclo da borracha; e Epecuén, na Argentina, vistosa colônia de férias à beira de um lago que submergiu em razão de uma desastrosa obra de canalização.
Equilibrando depoimentos emocionados de quem perdeu parentes, amigos, empregos e referências geográficas de suas raízes com imagens de desolação apocalíptica, Cidades Fantasmas constitui-se num registro de beleza sombria. Em sua proposta de exumar traumas e perdas, ilumina a permanência das lembranças e perseverança dos que insistem em resistir para não ser apagado da história. Exibições: sexta e sábado, às 20h.
Outros filmes da programação
Eu, Um Negro (França, 1958, 80min), de Jean Rouch. Homenagem ao centenário de nascimento de Jean Rouch (1917 – 2004). O diretor tem como personagens jovens imigrantes que chegam à Costa do Marfim e são instigados a falar sobre suas expectativas. Quinta, às 16h30min.
Sal para a Svanécia (Geórgia, 1930, 62min), de Mikhail Kalatôzov. Retrato etnográfico de uma isolada comunidade camponesa no Cáucaso, na qual o diretor incorporou registros de um projeto de ficção não concluído. Quinta, às 18h.
No Intenso Agora (Brasil, 2017, 127min), de João Moreira Salles. Imagens registradas pela mãe do diretor na China, em 1966, são colocadas em perspectiva junto a cenas de arquivo com momentos políticos transformadores do século 20. Quinta, às 20h
Perón, Meu Pai e Eu (Argentina, 2017, 80min), de Blas Eloy Martínez. Autor do livro Santa Evita (1996), o escritor e jornalista argentino Tomás Eloy Martinez realizou, há 45 anos, uma histórica entrevista com o ex-presidente Juan Domingo Perón. O filho do autor espelha as gravações em vivências pessoais. Sexta, às 16h30min.
Permanecer Vivo: Um Método (Holanda, 2016, 70min), de Erik Lieshout. O músico Iggy Pop extrai de um provocativo ensaio do escritor Michel Houellebecq trechos que correspondem a sua vida. Sexta e domingo, às 18h.
Comunhão (Polônia, 2016, 72min), de Anna Zamecka. Menina de 14 anos que cuida de um pai relapso e de um irmão autista encara um processo de amadurecimento tentando reunir sua disfuncional família. Sábado, às 18h.
Los Ninos (Chile, 2016, 83min), de Maite Alberdi. Sem poder mais contar com os pais, grupo de amigos com síndrome de Down, na faixa dos 50 anos, procura trabalho e depara com preconceito e entraves legais. Sábado, às 16h30min.
Abacus: Pequeno o Bastante para Condenar (EUA, 2016, 88min), de Steve James. Acompanha processo judicial contra família de banqueiros chineses acusada de fraude hipotecária em Nova York. Domingo, às 16h30min.
O Poder de Solovkí (Rússia, 1988, 93min), de Marina Goldovskaya. Antigos prisioneiros de um campo de trabalho na URSS relembram, 60 anos depois, suas vidas no local. Domingo, às 20h.