Um super-herói mais humano, fragilizado, antissocial e atormentado. Esse tem sido o perfil buscado por boa parte das adaptações para o cinema dos ídolos dos quadrinhos a fim de repactuar a conexão com os fãs e ampliar o público com novos simpatizantes. A estratégia, no entanto, nem sempre funciona: na maioria dos casos, o resultado frustrante fica a meio caminho do filme "adulto" e do entretenimento puro. Logan é uma exceção: em sua nona e derradeira atuação na pele – e no pelo – do furioso Wolverine, o ator Hugh Jackman imprime uma dramaticidade e uma verossimilhança que o personagem ainda não alcançara na tela, sem precisar distanciar-se do mundo das HQs e mantendo-se bastante fiel à franquia X-Men e, em especial, aos gibis da série Old Mand Logan, no qual o longa se baseia. A nova aventura tem direção de James Mangold, de Wolverine: Imortal (2013), e é o mais violento em 17 anos de aparições cinematográficas do mutante, iniciada com X-Men: O Filme (2000) – Logan foi classificado como impróprio para menores de idade nos Estados Unidos. A produção tem sessões de pré-estreia nesta quarta na Capital, entrando em cartaz amanhã no circuito.
A história se passa em 2029, quando um Wolverine beberrão e ressentido ganha a vida como chofer de limusine, escondendo-se em um refúgio em ruínas na fronteira do México com os Estados Unidos, onde cuida com a ajuda do mutante Caliban (Stephen Merchant) do velho professor Charles Xavier (Patrick Stewart), ex-mentor dos X-Men que apresenta sinais de demência. O aposentado vigilante é obrigado a voltar à ativa quando cruza em seu caminho uma garota de 11 anos com poderes especiais: fruto de experiências de uma empresa de pesquisas genéticas, Laura (Dafne Keen) escapou do laboratório chefiado pelo cientista do mal Zander Rice (Richard E. Grant) e busca a ajuda de James "Logan" Howlett – nome do Wolverine. Perseguidos por perigosos e implacáveis vilões liderados pelo mercenário Donald Pierce (Boyd Holbrook), Logan, Laura e Xavier acabam formando uma peculiar família de super-heróis.
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Para além das óbvias ligações com as produções do gênero e a mitologia das criaturas do universo Marvel, Logan explicita sua filiação ao western: a primeira parte da trama, ambientada entre casas abandonadas no meio do deserto, mostra um típico cenário de faroeste – além de remeter também à saga Mad Max; já na metade do longa, depois que os personagens de Laura e Xavier assistem na TV a Os Brutos Também Amam (1953), o clássico bangue-bangue torna-se uma referência que será recorrente durante o restante do filme. O australiano Hugh Jackman, 48 anos, esteve no Brasil há duas semanas para divulgar Logan – vindo diretamente da première mundial na capital alemã, onde a produção encerrou fora de competição o Festival de Berlim – e falou com Zero Hora sobre essas citações:
– Desde o primeiro filme que fiz como Wolverine busquei me inspirar em Os Imperdoáveis, de Clint Eastwood, que teve um enorme impacto em mim quando era mais jovem. Eu era fã do Clint, mas não particularmente de westerns. Mas esse filme é incrível! Em certo nível eu estava torcendo por Will Munny (personagem de Eastwood) durante aquele tiroteio violento do final, mas ao mesmo tempo me sentia desconfortável, porque no final das contas ele destrói tudo. Aquele era o tipo de complexidade que eu queria em Logan.
* Jornalista viajou para São Paulo a convite da Fox Filmes