Colombiano radicado em Porto Alegre e agora com um pé também em Los Angeles (EUA), o cineasta Juan Zapata tem como foco na sua trajetória pessoal e profissional cruzar fronteiras. Transita entre o documentário e a ficção em suas produções, criou a distribuidora Latinópolis para estimular a circulação de filmes latino-americanos no continente e, agora, lança um longa-metragem com realização transnacional. Com estreia prevista para quinta-feira na Capital e no Rio de Janeiro, o drama Para Sempre tem como protagonista a brasileira Daniela Escobar, traz no elenco de estrangeiros nomes como o colombiano Marlon Moreno e o alemão Peter Ketnath, é falado em inglês e tem locações, entre outros países, nos Estados Unidos e na Holanda.
Para Sempre é o segundo longa de ficção de Zapata, após Simone (2013), que aborda a questão de identidade de gênero nos conflitos afetivos de uma bissexual. No roteiro que escreveu com Daniela, o diretor ilumina o processo de reconstrução física e emocional de uma mulher após cumprir um doloroso luto, quando superar a morte torna-se vital para retomar a vida.
Scorsese apresenta em "Silêncio" perseguição aos cristãos no Japão do século 17
Kristen Stewart consolida carreira internacional com Personal Shopper
King Kong volta aos cinemas em clima de matinê
Com uma narrativa enxuta (pouco mais de uma hora de duração), Para Sempre apresenta Alice, personagem de Daniela, amargando a recente perda do marido. No apartamento em Los Angeles em que a brasileira vivia com o colombiano John (Moreno), tudo é lembrança, de móveis e objetos à voz na secretária eletrônica. Alice desperta dessa prostração viajando para encontrar uma amiga em Amsterdã, na Holanda. Revisita rotas e cenários que também despertam memórias da felicidade a dois, inseridas na trama em flashbacks.
– O filme nasceu logo depois de eu terminar Simone – diz Zapata, por e-mail, logo depois de apresentar Para Sempre no Festival de Guadalajara, no México, na noite desta segunda-feira. – A ideia era construir essa história dentro de um universo masculino, até tentei filmar com o (ator) Roberto Birindelli, mas, por questões de agendas, o projeto nunca se concretizou. A ideia ficou na minha cabeça durante dois anos. No Festival de Gramado de 2014, por casualidade, Daniela sentou de meu lado em um restaurante e comentei sobre esse filme que gostaria de fazer com um personagem que, em razão de uma profunda dor, decide fugir para um lugar distante. Ela trouxe ideias e experiências que me influenciaram. Naquele dia nasceu um filme e um amor. O filme tomou a perspectiva feminina, o que facilitou o processo de criação. Queríamos falar de luto, de depressão, de superar adversidades e, principalmente, de amor, de valorizar quem está ao nosso lado.
Desde o final dos anos 2000, Zapata investe nos lançamentos de seus filmes em múltiplas plataformas. O documentário A Dança da Vida (2008), por exemplo, foi apresentado simultaneamente em cinemas do Brasil e de outros países latinos, DVD, televisão e internet. Realizar Para Sempre em inglês, explica, atendeu à imposição do roteiro e agora abre portas para a circulação internacional do filme.
– Nosso desejo era fazer um filme 100% internacional, por isso a opção pelo inglês. Também havia o contexto da história, um road movie em que a protagonista transita por muitos lugares onde o inglês é o idioma de comunicação comum. Meu cinema, desde a produção, sempre busca a sustentabilidade econômica. Se algo aprendi com o cinema brasileiro é que ele limita em mais de 50% seu mercado internacional. Como não dependo de (financiamento público via) fundos e editais para alcançar retorno econômico, realizar filmes em inglês ou espanhol amplia as possibilidades comerciais. Mas o que define um filme é, afinal de contas, sua qualidade, não seu idioma.
Para Sempre ganhou prêmios em festivais nos EUA (Accolade Competition e Los Angeles Independent Film Festival) e na Colômbia (Festival de Bogotá). Antes do lançamento no Brasil e na Colômbia foi exibido no circuito do Equador. Em abril, chega ao México. Em maio, estreia na Alemanha.
Sem detalhar o orçamento total de Para Sempre, o diretor diz que seu filme está nos padrões de uma produção de baixo orçamento no Brasil (cerca de R$ 1, 8 milhão).
– Venho batalhando desde que cheguei ao Brasil para recuperar a credibilidade do investimento direto no cinema, num modelo mais americano. O modelo brasileiro é dependente demais dos editais e, nesta dependência, esquece de sua sustentabilidade e da visão de negócio. Felizmente encontrei num amigo a mesma visão executiva que sempre quis testar. O (americano) Douglas Limbach entrou no filme e conseguiu viabilizá-lo com outros investidores, empresários como Dael Linke, que nunca tinham investido em cinema mas entenderam o potencial do projeto. Isso motivou a expansão da minha produtora para os Estados Unidos, e já estamos trabalhando no segundo e terceiro filmes no mesmo modelo. Daniela, Marlon e Peter foram produtores associados.
Zapata segue à frente da Latinópolis e faz um balanço da atuação da empresa de distribuição fundada em 2008:
– Agora em 2017 passará a ser uma rede ibero-americana, ampliando a oferta de filmes e de espaços de exibição. Estou fazendo reuniões aqui no Festival de Guadalajara. A programação de 2017 está fechada com seis filmes independentes do Brasil, México, Espanha, Colômbia e Estados Unidos. A distribuição do cinema latino-americano deve se reestruturar de zero. Quando começamos, tínhamos quatro, cinco pessoas por sessão. Nas sessões de 2015 e 2016, chagamos à média de 25, 30 espectadores por sessão, com picos mais altos em alguns filmes. Isto é uma alegria, pois a distribuição é um exercício de formação de publico, um esforço de continuidade que não se deve perder.
Com a filial da Zapata Filmes instalada em Los Angeles, o diretor trabalha em projetos no Brasil e nos EUA. Entre seus próximo trabalhos estão o documentário Substantivo Feminino, codirigido pela jornalista Daniela Sallet, e Tequila, longa de ficção que terá no elenco Marlon Moreno e Roberto Birindelli, com início das filmagens previsto para outubro, em Los Angeles.