Em Miami, a atriz brasileira Sônia Braga criticou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e pediu que os brasileiros defendam a democracia de um país que "não se parece" com o que ela conhecia.
– Há um golpe no Brasil; não é um golpe militar. É muito difícil para as pessoas fora do Brasil saberem exatamente o que está acontecendo e a dimensão do perigo pelo qual estamos passando – disse, na noite de sexta-feira, em uma conversa com o público após a projeção de Aquarius, filme que se tornou o símbolo da resistência ao governo Temer.
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A atriz, que vive atualmente em Nova York, ainda criticou a eleição do bispo evangélico licenciado Marcelo Crivella, do Partido Republicano Brasileiro (PRB), no Rio de Janeiro, candidato de extrema-direita.
– Este não parece mais com o país que conheci, onde vivi e que amei tanto. Agora estamos em uma posição, todos os brasileiros, na qual sabemos que devemos fazer algo para não perder algo que foi muito difícil conseguir: a democracia. A democracia no Brasil, alcançada nos anos 1980, é ainda muito jovem".
Sônia Braga respondeu às perguntas do público ao apresentar no Tower Theater da Little Havana em Miami (Flórida, sudeste dos Estados Unidos) o filme de Kleber Mendonça Filho, que foi indicado à Palma de Ouro de Cannes.
Aquarius era um dos candidatos para representar o Brasil na corrida pelo Oscar, mas o Ministério da Cultura decidiu apresentar para a competição o filme "Pequeno Segredo", de David Schurmann. A seleção causou controvérsia, e alguns interpretaram que a decisão teve menos a ver com a qualidade do filme eleito do que com interesses políticos.
Isso porque no tapete vermelho do Festival de Cannes, em maio, o diretor e o elenco de Aquarius mostraram cartazes que denunciavam "um golpe de Estado" no Brasil.
Horas antes, Dilma Rousseff acabava de ser suspensa pelo Senado em um processo que acabou com sua remoção definitiva em agosto, por acusações de manipulação das contas públicas.
Após o protesto em Cannes e a oposição pública de Sônia Braga e de seus colegas ao novo governo de Temer, o filme se tornou um símbolo do descontentamento da esquerda intelectual.