O anúncio do governador Eduardo Leite com novas regras para os pontos de corte do distanciamento controlado, os quais irão permitir com mais celeridade o avanço da classificação de regiões para as bandeiras críticas, a vermelha e a preta, que causam restrições como o fechamento do comércio e do setor de serviços, foi recebida com críticas e elogios no Estado. As mudanças apresentadas pelo Palácio Piratini, nesta quinta-feira (11), buscam estancar as escaladas dos novos casos e internações por coronavírus verificadas recentemente.
— O avanço da pandemia é um sinal de alerta para todos. Os exemplos que já ocorreram de flexibilizações foram extremamente negativos. Se tiver de endurecer para salvar vidas, tem de ser feito. A curva está ascendente, crescendo muito, e precisamos de maior rigidez para evitar maiores números de óbitos no Rio Grande do Sul — diz Valdeci Oliveira (PT), integrante da maior bancada de oposição ao governador na Assembleia.
O presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Dudu Freire (PDT), se mostrou solidário à estratégia de salvar vidas e de basear as decisões em um sistema de critérios científicos, como é o distanciamento controlado.
— Por mais que existam descontentamentos por eventual fechamento do comércio, para a Famurs, toda a decisão que o governo estadual tomar com base na ciência e em exemplos de outros países, nós apoiamos. O objetivo é salvar a vida das pessoas — avalia Freire, prefeito de Palmeira das Missões.
Em Bento Gonçalves, que registra 737 casos de coronavírus confirmados e 23 mortes, considerando números até as 17h30min desta quinta-feira (11), o prefeito Guilherme Pasin (PP) foi elogioso ao padrão técnico adotado pelo Palácio Piratini para a definição de medidas.
— Isso reduz a condição de erro. Sabemos que o governador está tomando as medidas mais adequadas de preservação da vida — destacou.
Já em Lajeado, o tom do prefeito Marcelo Caumo (PP) foi de preocupação. A cidade já esteve na classificação de bandeira vermelha e, atualmente, ocupa a faixa laranja. O município do Vale do Taquari soma 1.499 positivados para a covid-19, número mais elevado no ranking da Secretaria Estadual da Saúde, e 20 mortes.
— Seria um prejuízo muito grande voltar para a bandeira vermelha. Paralisa serviços. Ter esses critérios mais rígidos seria muito ruim — avalia Caumo.
Também contrário as medidas, o presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Luiz Carlos Bohn, diz que a classe está “preocupadíssima” com a possibilidade de a bandeira vermelha voltar para zonas do Rio Grande do Sul, o que poderá ocorrer a partir do crescimento de casos de internações, projeções de óbitos e infecções por covid-19.
Com os novos critérios, elevações menores em indicadores, nos patamares entre 20% e 50%, já serão suficientes para, junto de outros critérios, elevar uma bandeira para as faixas graves, cujas restrições paralisam significativas porções da economia.
— Os critérios para enquadramento das regiões nas bandeiras vermelha e preta são definidos e alterados arbitrariamente. Fica reforçada nossa visão de que uma definição arbitrária de bandeira vermelha, por exemplo, considerando a aplicação dos protocolos de segurança obrigatórios, não necessariamente deveria recomendar o fechamento das empresas de comércio e serviços — diz Bohn.
Para ele, mesmo nas classificações de maior gravidade, os setores econômicos, incluindo o varejo, deveriam ser autorizados a abrir portas em escalas menores de capacidade de atendimento ao público. Presidente da Assembleia Legislativa, Ernani Polo (PP) também recebeu com receio os novos critérios.
— Fico preocupado olhando no todo, inclusive nos reflexos na saúde. Os dados indicam que reduziu a procura por atendimento e diagnóstico de pessoas com outras enfermidades. Significa que as pessoas estão ficando mais doentes em casa. Se a população pudesse ficar muito tempo sem trabalhar, seria uma realidade, mas essa não é a realidade do Brasil. Por isso, vejo com preocupação — diz Polo.