O barman Gabriel Viana, 22 anos, não imaginava que estaria prestes a auxiliar dezenas de pessoas quando saiu após o expediente na madrugada da última segunda-feira (20), no Litoral Norte gaúcho.
Ele estava acompanhando um colega de trabalho até em casa quando passou pela ponte pênsil, que fica entre Torres e Passo de Torres. O jovem conta que chamou a atenção a quantidade enorme de pessoas que estavam em cima da passagem em razão dos eventos de Carnaval no estado vizinho.
— Tinha 70 a 100 pessoas, e eu já estava avisando “ó gente, a ponte é para 20 pessoas, eu sei que vocês estão no Carnaval, estão alcoolizados, mas acalma um pouco”. Ninguém estava dando muita bola, tavam pulando e balançando — relata Gabriel.
O barman e o colega saíram de Torres e foram em direção a Passo de Torres, em Santa Catarina, onde aconteciam os festejos. Após ouvir o barulho do rompimento dos cabos e os gritos, o jovem voltou e quis ajudar as pessoas que caíram na água jogando boias dos barcos que estavam no Rio Mampituba.
— A ponte já tinha virado, só vi as pessoas penduradas pedindo socorro — comenta.
Em meio aos resgates, uma cena chamou a atenção do morador de Torres, que não hesitou e pulou na água.
— Eu vi duas crianças abraçadas. Eu não ia pular na água porque é perigoso, né? A gente tem a noção de natação para nós mesmos. O rio estava tocando e elas estavam indo — relembra.
Mesmo sendo arrastado, Gabriel pediu socorro e conseguiu ajuda de outras pessoas para subir de volta à margem com as crianças, que ele estima terem entre 10 e 13 anos. O jovem conta que sentiu câimbras nas pernas pelo “peso” da correnteza após o resgate.
— A gente se sente em choque porque parece que o cara fala e acabou acontecendo. No momento, eu estava tremendo tanto pelo frio e pela água e também porque tinha muitas mães berrando e pessoas querendo se atirar na água para ajudar.
Determinado a seguir auxiliando, Gabriel não teve tempo nem de saber os nomes das crianças, tampouco se eram da região ou se estavam a passeio pelo local.
— Nos primeiros momentos, as pessoas falavam para eu não pular, mas não tive muito o que pensar — afirma.
Buscas seguem para encontrar último desaparecido
Após o acidente na ponte pênsil do Rio Mampituba, as buscas seguem de forma ininterrupta na região e entram no segundo dia para tentar localizar o jovem Brian Grandi, 20 anos. Na manhã desta terça-feira (21), mergulhadores do Corpo de Bombeiros retornaram à água para aproveitar a maior quantidade de luz com o clarear do dia.
Embarcações da corporação e do Comando Ambiental da Brigada Militar ampliaram a área de procura. Um helicóptero e um drone também são utilizados para estender o campo de visão sobre as águas. O delegado Marcos Vinicius Muniz Veloso, responsável pela investigação, confirmou que o rastreamento do celular de Brian registrou a última localização na região da ponte.
— A timeline do Google deu a última localização às 2h21min no Rio — esclarece.
A bicicleta de Brian foi encontrada nas imediações ainda na segunda-feira e seguia posicionada perto da ponte nesta manhã. Uma sinalização nas entradas da ponte indica capacidade máxima de 20 pessoas. A restrição foi superada no momento do acidente, como mostram vídeos divulgados nas redes sociais, em que os pedestres balançam a ponte ao caminhar.
O Instituto Geral de Perícias (IGP) fez a análise ainda na segunda-feira e recolheu um cabo de ferro rompido da estrutura, que será avaliado no Centro de Excelência em Perícias Criminais. O laudo deve sair em 30 dias, segundo a Polícia Civil.