Desde a madrugada de segunda-feira (20), equipes de socorro, de prefeituras e de investigação trabalham para esclarecer o acidente na ponte pênsil sobre o Rio Mampituba, entre Torres, no litoral norte gaúcho, e Passo de Torres, em Santa Catarina. O fato foi registrado volta das 2h50min, quando mais de duas dezenas de pessoas usavam a passarela – que tem capacidade para 20.
Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do RS (CBMRS), 30 pessoas foram retiradas das águas do Rio Mampituba, que tem 8 metros de profundidade naquele trecho. Durante a manhã após o fato, as equipes ainda faziam buscas a seis prováveis desaparecidos; contudo, os números foram diminuindo à medida que familiares sinalizavam contato e localização deles.
Com isso, Brian Grandi, de 20 anos, que sumiu após o acidente, seria o único desaparecido. A bicicleta do rapaz foi encontrada nas imediações da ponte e ele não fez nenhum contato com os parentes.
— Ele nunca foi de ficar sem responder. Mal saía e, quando saía, era com a gente — diz a irmã do jovem, Bruna Grandi.
Brian é natural de Caxias do Sul, na Serra, e mora há três meses em Torres. Conforme os familiares, não sabe nadar. Os bombeiros passaram a segunda-feira (20) trabalhando em diversos pontos do Mampituba.
Conforme o tenente-coronel Rodrigo Canci Pierozan, comandante do 9º Batalhão do Litoral Norte, o jovem pode ter sido levado pela correnteza, para o mar ou para o interior do rio.
— A operação só se encerra com a certeza da localização do desaparecido. O clima não é favorável, mas vamos prosseguir na água. Vamos permanecer 24 horas fazendo buscas no local — garantiu.
A operação mobiliza bombeiros – inclusive, mergulhadores –, embarcações do Comando Ambiental, helicóptero e a Defesa Civil. O secretário de Planejamento de Torres, Matheus Junges, informou que, pelo que soube, cerca de cem pessoas estariam sobre a estrutura, embora placas avisem, na entrada da travessia, sobre a capacidade máxima de 20 pedestres.
Vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento do acidente. Nas imagens, várias pessoas fazem a travessia quando a ponte pênsil vira devido ao rompimento dos cabos, e diversas caem na água. A seguir, as imagens mostram populares tentando se aproximar para o resgate, enquanto um homem permanece segurando-se nos cabos com as duas mãos.
Em Passo de Torres estaria acontecendo uma festa de Carnaval e parte das pessoas retornava desse evento no momento do acidente.
— Tinha muita gente vindo do Passo (de Torres), eles estavam correndo, eles estavam pulando, eles estavam balançando de propósito. Estava uma bagunça — relatou Juliana Barbieri, 28 anos, uma das sobreviventes.
Ela e a amiga Luciana Carvalho, 28, que também caiu na água, contaram que a distância entre o ponto da queda até as margens do rio era grande e que um barco nas proximidades foi determinante para o resgaste imediato das pessoas.
Feridos
GZH apurou que, após o acidente, pelo menos 15 pessoas foram atendidas no Pronto Atendimento Municipal de Torres. Entre elas, 14 adolescentes, que chegaram ao local por volta das 3h, acompanhados dos pais ou responsáveis. Todos tinham ferimentos leves, como arranhões, e foram liberados. Já no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, três pessoas foram atendidas, e um homem seguia internado em estado estável durante a tarde desta segunda-feira.
A Polícia Civil gaúcha deverá liderar as investigações da queda da ponte pênsil. De acordo com o delegado Marcos Vinicius Muniz Veloso, responsável pelo caso, o cabo que teria rompido e ocasionado o acidente está no lado do RS. As autoridades ainda não sabem informar o que provocou o rompimento. No início do mês, uma embarcação teria danificado a estrutura.
— Há uma placa no início da ponte indicando que o limite é de 20 pessoas, mas precisamos esperar o relatório do Instituto-Geral de Perícias (IGP) para saber se tinha excesso de pedestres na hora da queda — explica Muniz.
— Pelas imagens que temos até agora, não conseguimos identificar quantas pessoas estavam na ponte.
A polícia ressalta que trabalha em conjunto com as autoridades catarinenses ao longo de toda a investigação. O foco dos agentes, no momento, é localizar Brian Grandi. Devido ao acidente, as atrações de Carnaval previstas para os próximos dias em Torres foram canceladas pela prefeitura.
“Só quero que encontrem ele”, diz mãe
O dia foi de angústia e incerteza para Cristiane Santos, 38 anos, mãe de Brian Grandi. Durante as buscas, as autoridades não tinham certeza de que o jovem realmente caiu na água, mas tudo levava a essa hipótese.
— Nós não descartamos nenhuma possibilidade. Mas temos o fato que é a ponte ter virado junto do desaparecimento do jovem. Isso aponta para a chance dele ter caído na água – comenta o tenente-coronel Rodrigo Pierozan.
No início da tarde, os familiares receberam relatos de que Brian teria pegado uma carona por aplicativo e ido até a casa de amigos. No entanto, não se tratava dele.
— Quando soube desse relato, fiquei até mais aliviada. Já estava pensando em brigar com ele por ter sumido. Mas aí bateu um desânimo — relatou a mãe.

Espera
Cristine acompanhou durante todo o dia os trabalhos das autoridades. Como a chuva não deu trégua, a mãe e demais familiares acompanharam as buscas abrigados em frente à porta de um condomínio próximo da ponte. Ao lhe oferecerem um lanche, ela negou, ansiosa e com medo de passar mal.
— Eu só quero que encontrem ele. Há pouco ouvi um senhor apontando possíveis culpados. Não me importa isso agora — desabafou.
No início da noite, ela e familiares souberam que as buscas continuariam. Em seguida, decidiram voltar para casa para tentar descansar e aguardar por notícias.
Para prefeitos, não há como fiscalizar a travessia
— Temos placas bem-sinalizadas na cabeceira da ponte dizendo o limite máximo de pessoas que devem atravessar (ao mesmo tempo). E não há uma fiscalização efetiva de quantas pessoas acessam a ponte. Não há um orientador, vamos dizer assim — disse o prefeito de Torres, Carlos Alberto Matos de Souza.
O prefeito de Passo de Torres, Valmir Rodrigues, também afirmou que é inviável manter uma autoridade fiscalizando o número de pessoas que atravessam a ponte.
— Não posso colocar um policial ali, não tem como. Aí tu vais falar isso (fechar a ponte para evitar acidentes) e vais ser linchado. Isso é um ponto turístico nosso, mas muitas pessoas fazem mau uso — pontuou.
Vistoria
Ambos os prefeitos garantiram que a vistoria dos cabos e das braçadeiras da ponte é feita com frequência. A última, segundo Rodrigues, foi na semana que antecedeu o Réveillon 2023.
— Tiramos a lição de que temos que reforçar. Em eventos e datas comemorativas, colocar orientadores ou até fechar, em períodos mais críticos, para que tenha um cuidado maior – concluiu Souza.
Mastro de barco atingiu passarela no último dia 2

A investigação do acidente na ponte pênsil incluirá a apuração de danos registrados na estrutura no início deste mês. No dia 2, a passarela foi atingida por uma embarcação. A prefeitura de Passo de Torres confirmou o episódio à reportagem de GZH. “O mastro atingiu somente as redes laterais, não afetando os cabos de sustentação da ponte. A manutenção foi realizada no dia seguinte do ocorrido. Ressaltamos que as manutenções na ponte são realizadas periodicamente pela prefeitura”, diz nota enviada pelo município.
O texto também afirma que na sexta-feira, três dias antes de a ponte virar, equipes fizeram a manutenção preventiva, com o reparo nos cabos, tirantes, tela e estrados.
Investigação
Já a prefeitura de Torres disse que foi notificada apenas na segunda-feira sobre o episódio com o barco. A Polícia Civil de Torres recebeu um vídeo do que seria o momento do incidente no dia 2. O material será analisado durante a apuração das causas do acidente, conforme o delegado Marcos Vinicius Muniz Veloso.
— Esse fato será verificado. Recebemos a informação, mas temos que confirmar. Pedimos todas as perícias pertinentes ao caso ao IGP. Estamos verificando todas as possibilidades, e, durante o inquérito, teremos essa resposta — conclui.
A estrutura
A primeira ponte pênsil sobre o Rio Mampituba foi inaugurada em 1964. Em 1984, a atual, maior e mais elevada que a velha, ao ser inaugurada em 24 de dezembro daquele ano, se rompeu. Na época, ninguém morreu. Cerca de 40 pessoas, incluindo o padre que deu a benção, caíram na água.
Em 1985, a ponte foi renovada e ganhou a estrutura existente até hoje, feita com madeira e sustentada por cabos de aço. Em 2014, as prefeituras dos dois municípios se uniram para tornar a travessia mais segura, após sua interdição. Apesar das intervenções, a ponte pênsil manteve sua principal característica: balançar, conforme os movimentos de quem a atravessa. Sua capacidade é limitada a até 20 pessoas por vez.
Cabe aos dois municípios garantir a manutenção nos cabos e nas tábuas de madeira – e ambos afirmam que isso é feito com frequência. A ponte tem 1,5 metro de largura e 100 metros de extensão. Está instalada a uma altura de até seis metros em relação ao nível do Rio Mampituba. Naquele ponto, a profundidade do rio é de 8 metros.