A meta de compartilhar conhecimento via redes sociais durante a pandemia de coronavírus acabou ganhando mais espaço na vida do biólogo Maurício Tavares, 42 anos, do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), e dos filhos dele, Antônio, seis anos, Flora, 10 anos, e Pedro Piccoli Tavares, 13 anos. Desde 2020, são as vozes das crianças, em sua maioria, que dão vida aos vídeos do Fauna Marinha RS, um canal sobre a fauna presente no Litoral Norte gaúcho, disponível em diferentes plataformas digitais.
Foi numa conversa com o filho Pedro, durante a pandemia, que veio a ideia de criar vídeos educativos, acessíveis e num formato lúdico, e disponibilizá-los no Youtube para as escolas. Para atrair as crianças que ainda não aprenderam a ler, o biólogo optou por incluir narração com voz infantil. Na primeira tentativa, os filhos de Maurício se negaram a participar e foi a filha de um casal de amigos a responsável pela leitura. Logo depois da gravação, Pedro e Flora se entusiasmaram com a iniciativa e decidiram ajudar o pai com os vídeos seguintes.
— O Fauna Marinha RS ganhou vida com a ajuda de muitas mentes amigas, entre elas, as dos meus filhos, que deram sugestões até na edição dos primeiros vídeos — comenta Maurício.
Inicialmente, o projeto de extensão, que existe desde 2013 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), chamava-se “Conhecendo a Fauna Marinha e Costeira do Litoral Norte do Rio Grande do Sul”. Hoje, tem o nome de Fauna Marinha RS e seguidores de todo o país e do mundo, chegando a reunir, no ano passado, mais de 250 candidatos do Brasil inteiro para uma das 12 vagas de trabalho voluntário nas plataformas digitais do canal. Em dezembro de 2020, GZH contou o início desta história.
Morador de Capão da Canoa e trabalhando em Imbé, Maurício monitora a fauna da praia há duas décadas e costuma ir a campo para fotografar o ecossistema. Ao longo dos anos, ele acabou reunindo um arquivo com dezenas de espécies encontradas nas praias gaúchas. Mesmo sem ter redes sociais próprias e com conhecimento mínimo de montagem e edição de vídeos, o biólogo arriscou-se. E deu certo.
Nos anos mais recentes, os filhos passaram a acompanhá-lo nas saídas exploratórias nas horas de folga. Antônio tem olhar de investigador, apontando para cada buraco que vê nas dunas das praias, conta o pai, orgulhoso. Flora e Pedro também demonstram curiosidade e até conhecimento sobre questões ligadas à biologia. Numa saída rápida, pouco antes de Flora e Antônio gravarem o novo episódio, sobre a caravela-portuguesa e que irá ao ar no próximo domingo (6), pai e filhos deram uma volta pela praia Zona Norte, em Capão da Canoa. A reportagem acompanhou uma das conversas da família apaixonada pela natureza.
— O que é isso, pai? — pergunta Antônio, enquanto aponta para uma espécie de "pequena casca" abandonada sobre a vegetação numa duna.
— É uma exúvia, comum nos artrópodes. Elas são o chamado exoesqueleto, que protege o corpo do animal. Esta parece ter sido de um besouro — explica Maurício, para uma turma atenta.

Nos vídeos do Fauna Marinha RS, Maurício produz os roteiros, escolhe as espécies, seleciona as imagens — os colegas de área compartilham material — e os sons dos animais. A grade inicial de episódios foi montada de acordo com a ocorrência dos animais no Litoral Norte, como o pinguim-de-magalhães, que surge na costa gaúcha no inverno, ou a batuíra-de-peito-tijolo, no outono ou inverno. E a há vídeos em que a família inteira aparece, como no episódio 21, sobre a maria-farinha, um dos favoritos de Flora e Antônio.
— A meta é que eles estimulem o interesse das pessoas pela fauna e pelo meio ambiente em geral. São pequenas mensagens acessíveis para qualquer pessoa, a qualquer momento — resume Maurício.
O canal não tem definição de quantidade de episódios, pois são milhares de aves, anfíbios, répteis, mamíferos, peixes e invertebrados como siris, caranguejos e águas-vivas presentes no Litoral Norte. A partir do próximo, de 6 de fevereiro, os vídeos passarão a ser quinzenais, sempre postados aos domingos. Um vídeo será narrado pelas crianças e outro, pelo próprio biólogo.
Quem assiste também pode contribuir
- Qualquer pessoa pode colaborar com o canal com imagens, vídeos de espécies animais de ocorrência costeira ou marinha, ou, ainda, com a locução para algum episódio.
- A preferência é que os narradores sejam crianças entre cinco e 12 anos.
- A ideia é abordar qualquer organismo animal (vertebrado ou invertebrado).
- Fotos e vídeos ou dúvidas sobre a fauna marinha do litoral gaúcho podem ser enviados diretamente para faunamarinhars@gmail.com ou fauna_marinha@ufrgs.br.
- Conheça o projeto neste link: https://linktr.ee/faunamarinhars
Confira mais vídeos da iniciativa: