A dançarina Emily Borghetti disse ter sido alvo de censura durante o Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (Enart), em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo. Na terça-feira (19), ela fez um desabafo nas redes sociais relatando a situação.
A artista fez uma apresentação de chula no sábado (16), segundo dia do evento. Segundo ela, na véspera, participantes descontentes ameaçaram denunciar o espetáculo ao Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), que promove o evento.
— É uma apresentação que já tinha sido previamente aprovada e apresentada, em um tipo de pré-estreia no CTG. Um grupo de chuleadores nos intimidou dizendo que não caracterizava chula, então não poderia usar lança nem espora, sob a justificativa de não haver registro na história gaúcha — disse.
A artista estava no evento com o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Tiarayú, de Porto Alegre, com um grupo de 16 peões, 16 prendas e três solistas. O medo de ser desclassificado por não seguir o regulamento fez o CTG retirar a lança e a espora das prendas para não caracterizar a chula, conforme Emily.
— Isso tudo denuncia o machismo estrutural. Temos de falar o motivo de tudo ter acontecido, que é as mulheres ocuparem espaços tomadas de decisão. É uma pena que aconteça em um evento grande como esse. Mas, infelizmente, esses silenciamentos são muito comuns, temos de romper com isso — acrescenta.
Um dançarino de chula que pediu para não ser identificado disse à reportagem que a ideia da apresentação não foi desrespeitosa com o evento ou com a cultura gaúcha.
— Historicamente a mulher não estava presente quando surgiu a chula, que começou com tropeiros, que eram homens que levavam mercadorias e gado. No entanto, precisamos estar em movimento, nos atualizar: as tradições e costumes evoluem, assim como qualquer coisa. É um tema que há muito deveria ter sido resolvido — afirma.
Durante a quarta-feira (20), Zero Hora questionou o MTG e o CTG Tiarayú sobre o assunto, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.