Uma alpaca filhote corre enquanto uma lhama adulta observa a movimentação do campo. Elas interagem, caminham e se alimentam. A cena é comum em países da Cordilheira dos Andes e também faz parte da rotina de uma propriedade no interior de Viamão, na Região Metropolitana.
Apesar de incomuns entre os pets, alpacas e lhamas são considerados animais domésticos no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A lista inclui também de camelo ao bicho-da-seda.
Não existe um levantamento sobre quantos desses indivíduos há no Estado, mas Zero Hora identificou duas famílias que optaram por tê-los em propriedades rurais.
Vida nova entre lhamas e alpacas
Guida Sampedro, 33 anos, e Kent Rahman, 40, têm três lhamas e seis alpacas na propriedade em Viamão, que recebeu a reportagem na quarta-feira (16). A aquisição dos animais ocorreu após o casal ter decidido comprar um imóvel na zona rural.
— Vi uma matéria na internet que dizia que as alpacas eram cem vezes mais rentáveis do que as startups. Depois li que a China quer ter o maior rebanho do mundo. Achei interessante, comecei a pesquisar sobre o assunto e se alpacas eram vendidas no Brasil — conta a publicitária.
As consultas a vendedores do RS e de outros Estados migraram para a ideia inicial da compra de uma lhama. As negociações mudaram de rumo e o casal adquiriu, por fim, duas lhamas e quatro alpacas, que chegaram em fevereiro de 2021.
Dois filhotes nasceram do plantel: a lhama André, em abril de 2023, e a alpaca Britney, nascida no último dia 5. Charlie, também uma alpaca, foi comprado em 2022.
A rotina no sítio
Lhamas e alpacas ficam em baias construídas para cavalos e são alimentadas duas vezes por dia com ração para equinos. Entre as refeições, pastam na propriedade. A cada três meses é preciso administrar os vermífugos e antiparasitas.
Uma vez por ano ocorre a tosa, em um processo similar ao que é realizado em ovelhas. Em ondas de calor, as lhamas e alpacas permanecem nas baias, onde o ambiente é mais fresco e há ventiladores à disposição.
A propriedade tem quatro hectares e possui outros animais – cavalos, perus, cachorros e carpas estão entre eles.
Segundo o casal, o custo mensal para manter cada indivíduo é de cerca de R$ 200, mas o valor pode ser maior em caso de atendimento especializado.
Conforme Guida, a ideia é abrir o espaço para a visitação nos próximos dias. A rotina é compartilhada no site Dreamland, que também tem um Instagram.
— Esses animais ajudam a enxergar a vida de outra maneira. Exigem a dedicação e a paciência. É um presente quando conseguimos entender o que fazer para que eles cheguem mais perto. É um relacionamento que precisa ser construído — finaliza.
Presente de casamento
As lhamas entraram na vida da professora Maria do Carmo Schneider, 60 anos, moradora de São Sebastião do Caí, no Vale do Caí, por influência das filhas, que, quando crianças, assistiam a desenhos infantis que faziam referência ao animal.
Um deles foi o filme A nova onda do Imperador, lançado em 2000. Na animação, o personagem principal, Imperador Kuzco, é transformado em uma lhama. Yzma, responsável pela transformação, Kronk (aliado de Yzma) e Pacha, camponês amigo do imperador, são os outros participantes da trama.
— Eu tinha muita adoração pela imagem, a simpatia e o carisma que esse animal tem. Brincava que só faltavam as lhamas no meu sítio — conta.
O marido de Maria do Carmo, Nei Eduardo Schneider, 62 anos, resolveu fazer uma surpresa quando o casal comemorou 30 anos de casamento, em julho de 2020. Sem dizer o motivo, ele levou a professora à propriedade de um criador de lhamas no interior de São Lourenço do Sul, no sul do Estado, de onde voltaram com dois filhotes: Yzma (fêmea) e Kronk (macho), que custaram R$ 12 mil. Um ano depois nasceu Pacha (fêmea), mas Kronk morreu em 2023.
— Elas têm um convívio tranquilo com cavalos, ovelhas, galinhas, aves e cachorros. As lhamas têm muito espaço e se adaptaram bem. Despertaram a curiosidade dos nossos vizinhos, familiares e amigos, que vão ao sítio tirar fotos — conta.
Maria do Carmo diz não saber quanto as lhamas lhe custam por mês, mas que não é “muito caro”. As despesas são diluídas no trato dos outros animais, e ainda há a soma das idas ao veterinário para a aplicação de vacinas e de vermífugos.
— Lido com as lhamas como se fossem meus cavalos e ovelhas, pois não quero descaracterizá-las e tratá-las como cachorrinhos. São muito agradáveis: nos procuram, fazem um contato visual interessante conosco. Sou apaixonada por elas — pontua a professora.
Cuidados com o clima e o espaço
Elisandro Oliveira dos Santos, veterinário especializado em animais silvestres e professor da Ulbra Canoas, estudou camelídeos sul-americanos no mestrado e é um dos profissionais procurados para o atendimento de lhamas no RS.
Segundo ele, esse tipo de animal costuma ter um comportamento tranquilo desde que tenha contato com pessoas desde filhote. Há, porém, indivíduos com temperamento mais agitado e que não toleram tanta aproximação. Segundo o especialista, o comportamento é similar ao das ovelhas.
— O clima do Rio Grande do Sul é apropriado para camelídeos sul-americanos no período de outono, inverno e, eventualmente, na primavera, mas eles sofrem mais com o clima no verão. Por isso, é preciso mantê-los em ambientes com acesso à água ou em locais sombreados — explica.
Segundo o veterinário, por se encaixarem no grupo de animais domésticos, a norma ambiental não estabelece autorização para a manutenção. Porém, ele alerta que os interessados em lhamas e alpacas procurem ajuda profissional antes de adquirirem os animais, especialmente sobre as práticas corretas no manejo. Ter espaço suficiente para recebê-los também é algo que deve ser considerado.
— Não há indicação para manter esses animais em apartamentos, em áreas urbanas. Os camelídeos precisam de áreas para pastorear, não podem ser mantidos em espaços confinados — acrescenta.
Diferença entre lhamas e alpacas
Lhamas e alpacas são camelídeos nativos da América do Sul e historicamente vivem em regiões montanhosas dos Andes – Peru, Bolívia, Equador, Chile e Argentina. Atualmente, são encontradas em fazendas nos Estados Unidos, na Europa e em outras regiões, criadas para turismo, produção de lã e como animais domésticos. Alpacas e lhamas podem procriar entre si.
- Lhamas: são maiores do que alpacas, podem pesar entre 130 e 200 quilos e medir até 1m80cm de altura. São usadas como animais de carga. A carne e lã de lhama também são utilizadas. Vivem entre 15 e 25 anos
- Alpacas: são menores do que lhamas, pesam entre 55 e 85 quilos, medem entre 90 centímetros e um metro de altura. São criadas principalmente pela sua lã, que é valorizada. Vivem de 15 a 20 anos
Quanto custa?
A reportagem apurou com criadores do RS, Paraná e Rio de Janeiro que cada indivíduo (lhama ou alpaca) pode custar entre R$ 6 mil e R$ 23 mil.