A sigla GLS — que abrangia gays, lésbicas e simpatizantes — não é mais comumente utilizada na sociedade. Atualmente, a sigla mudou (a mais utilizada é LGBT) e ganhou o símbolo "+" no final, representado identidades e orientações não contempladas, além de seguir em evolução. Durante o mês do Orgulho LGBT+, GZH conversou com dois especialistas no movimento da causa para compreender melhor essa mudança e outras explicações envolvendo a sigla.
Inicialmente, GLS foi substituída por GLT, com a inclusão e reconhecimento de pessoas transexuais, sobretudo, de travestis. Depois, se tornou GLBT, dando visibilidade aos bissexuais.
Com as discussões sobre o tema e a luta das mulheres lésbicas no combate à misoginia na sociedade e dentro do próprio movimento, passou a ser utilizada a sigla LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros). Depois disso, a denominação cresceu, englobando letras e o sinal "+" simbolizando mais pessoas. Este processo ocorreu para unificar diferentes sexualidades e identidades de gênero.
Renan Quinalha, Coordenador adjunto do Núcleo de Estudos, Pesquisa, Extensão e Assistência à Pessoa Trans e professor de Direito da Universidade Federal de São Paulo, disserta sobre as diferentes letras adotadas para designar quem faz parte do movimento e a consequência das constantes mudanças na sigla:
— Acho que as duas siglas (LGBTQIAP+ e LGBTQIAPN+) são boas porque elas são mais inclusivas, no meio de todas essas diversidades, mas eu acho que ao mesmo tempo elas vão crescendo muito e isso gera uma série de dificuldades também de estratégia de comunicação.
O especialista também contextualizou o período em que era utilizado GLS citando que, antes dela, havia várias maneiras de nomeação dessas dissidências sexuais e de gênero:
— A gente teve homossexualismo no início, depois convertido em homossexualidade, mas antes disso a gente teve outros termos que eram utilizados também, no próprio movimento. Nomeações que foram reivindicadas e ressignificadas.
O especialista relembra outra sigla que foi utilizada para nomear um movimento de gênero:
— A gente pode dizer que a sigla inicial dos anos 70 no Brasil era MHB: movimento homossexual brasileiro. A sigla GLS chega já nos anos 1990, num contexto de ampliação dessas pautas.
A ressignificação das siglas, segundo o especialista, tem relação com uma abertura de espaço do tema na mídia. Esta abertura, para Quinalha, é diferente da existente na década de 70 e 80, logo depois da epidemia do HIV/Aids.
— Abriu-se um espaço maior para essas discussões, os veículos antes eram específicos da própria comunidade. Começou a ter uma abertura na imprensa tradicional também para essas temáticas, uma visibilidade na mídia, nas telenovelas, na cultura de modo mais amplo. — afirmou.
O jornalista, ativista e especialista em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade Gabriel Galli complementa citando os termos pejorativos com que a comunidade LGBT+ já foi descrita, inclusive, segundo ele, em espaços comerciais que eram mais amigáveis para as pessoas da comunidade:
— Antigamente, termos pejorativos e preconceituosos eram utilizados de forma ampla, sem grande contestação da sociedade em geral. Para se referir aos LGBT+, usavam palavras como invertidos, pederastas, bichas, sapatão e tantos outros. Já as pessoas LGBT+, tinham medo de se expor, então utilizavam termos como "os entendidos", buscando uma forma de se identificar, mas de uma maneira menos explícita, mais camuflada.
Siglas atuais contemplam mais pessoas
As siglas que representam o movimento LGBT+ seguem evoluindo. Segundo Quinalha, elas atendem ao estágio atual de desenvolvimento das discussões, das reflexões, e o contexto.
— Acho que é difícil a gente ter uma sigla única pra qualquer tipo de uso, é preciso contextualizar para ver o jeito mais adequado de se referir — relatou Quinalha.
O especialista ressalta que não há uma certa e errada, mas existem siglas que "cumprem uma função para determinados usos":
— Mais importante do que um letramento formal de sigla, é a gente de fato conseguir analisar, divulgar e abranger as pessoas aliadas para compreender que, por detrás de cada sigla e de cada letra, a gente está falando de existências, de reivindicação, de respeito e de cidadania.
Também neste sentido, Galli cita o crescimento das nomenclaturas a partir de organizações por parte da comunidade. Segundo ele, a sigla passa a ser reconhecida como algo que descreve um movimento organizado. E, neste sentido, um dos critérios para a sua mudança e para sua organização é a representação dos movimentos que estavam organizados no Brasil.
— Hoje, os movimentos brasileiros utilizam mais a sigla LGBT+, no sentido de incluir as pessoas em intersexo, mas também de colocar o "mais" para outras identidades possíveis, numa possibilidade de facilitação da compreensão das pessoas à respeito da sigla. Mas existem outras possibilidades e, no fim, isso é mais uma questão de convenção de acordo com o momento que vivemos — concluiu.
*Produção: Nikolas Mondadori e Filipe Pimentel