Uma das últimas moradoras do Hospital Psiquiátrico São Pedro, a artista Natália Leite morreu na segunda-feira (24), aos 79 anos. Ela vivia na instituição havia 66 anos e, por mais de 30, expressou sua subjetividade por meio da pintura.
Foi na Oficina de Criatividade do hospital que Natália encontrou um lugar para expressar sua vida. Desenhou, bordou e modelou casas, igrejas, figuras humanas, carroças, flores, papagaios, galinhas, porcos, bois e vacas, imagens que remetem à sua origem missioneira. Nascida em Santo Ângelo, em 1943, chegou ao São Pedro ainda na adolescência.
Sua arte figurativa, construída em gestos simples, deu origem a cerca de 14 mil trabalhos que pertencem ao acervo do futuro Museu Estadual Oficina de Criatividade. A busca pela cor, a liberdade expressiva, a beleza de sua invenção artística levou o trabalho de Natália a participar de várias exposições.
Destaca-se a apresentação de sua obra nas mostras Quatro x Quatro (Porto Alegre, 1998), Eu Sou Você (Porto Alegre, 2010) e a exposição Lugares do Delírio, em suas exibições no Museu de Arte do Rio (2017) e Sesc Pompéia (São Paulo, 2018). Natália teve a oportunidade de visitar a maioria dessas galerias e sentir o reconhecimento do público pela sua arte.
Além de tudo, seu trabalho ainda se tornou tema de trabalhos acadêmicos, como dissertações e teses, assim como de diversos outros tipos de textos.
– Natália Leite deixa um acervo de obras que honram a produção artística de nosso Estado. Uma artista que nasceu num lugar de excluídos, fruto de um lugar onde as pessoas não tinham nome, não tinha documento, que conseguiu vencer tudo isso através da sua arte – define a psicóloga Bárbara Neubarth, responsável pela Oficina de Criatividade, que acompanhou Natália nos últimos 30 anos.
Produção: Allisson Santiago
Confira algumas obras de Natália Leite