O Rio Grande do Sul é um dos Estados com maior disparidade no desenvolvimento humano entre brancos e negros, segundo estudo publicado nesta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Apenas Roraima apresentou uma desigualdade mais ampla.
O estudo em questão é o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), calculado a partir de uma série de dados oficiais sobre longevidade, renda e educação. A partir dessas estatísticas, o Ipea produz um indicador em que o resultado máximo possível é 1.
O IDHM dos brancos gaúchos ficou em 0,810. Entre os negros, foi de 0,725. Pela classificação do Ipea, isso significa que os brancos do Rio Grande do Sul têm um desenvolvimento humano muito alto (acima de 0,800), enquanto o dos negros é apenas alto (entre 0,700 e 0,799). A diferença de 0,085 entre os dois grupos populacionais foi superada só pela de Roraima (0,091) e ficou distante daquela verificada nas unidades da federação com maior igualdade racial, como Amapá (0,024) e Rondônia (0,035).
A decomposição do índice aponta que a maior diferença, no Rio Grande do Sul, está nos quesitos educação e renda. Brancos e negros gaúchos estão relativamente próximos no quesito longevidade (0,879 e 0,830, respectivamente). A distância é expressiva na renda (0,802 contra 0,711) e principalmente na escolarização (0,754 para brancos e 0,647 para negros).
Fenômeno nacional
Ainda que mais acentuada no Rio Grande do Sul, a disparidade de desenvolvimento humano por cor da pele é um fenômeno nacional, revela o estudo. Em todas as 27 unidades da federação, o IDHM dos negros foi inferior ao dos brancos. A única unidade da federação em que a população de origem afro teve um índice na faixa "muito alto" foi o Distrito Federal (0,807).
Na média nacional, brancos tiveram índice 0,817, enquanto negros registraram 0,732. Ou seja, a condição do negro gaúcho está abaixo da média do Brasil. Em oito Estados, os brancos tem IDHM melhor do que no Rio Grande do Sul. No caso dos negros, são 12 os Estados em que essa população tem IDHM mais alto.
Em comparação com 2016, no entanto, houve uma redução na distância. Enquanto o IDHM da população branca caiu (de 0,819 para 0,817), o da população negra elevou-se (de 0,728 para 0,732). No período, os indicadores de renda e educação dos brancos pioraram, o que não aconteceu entre os negros. O estudo do Ipea ressalta, no entanto, que a diferença de rendimentos ainda é abissal. A população branca ganha o dobro: sua renda per capita era de R$ 1.144,76 em 2017, contra os R$ 580,79 auferidos pelos negros.
Visão geral dos dados
Levando em conta os dados gerais do estudo, o IDHM brasileiro manteve-se estável entre 2016 e 2017, passando de 0,776 para 0,778. Houve uma uma leve queda (0,92%) no valor da renda per capita, que foi de R$ 842,04 para R$ 834,31 e gerou uma retração do IDHM Renda de 0,748 para 0,747, impacto contrabalanceado pelas outras duas dimensões.
O crescimento da esperança de vida, de 75,72 anos para 75,99 anos, ajudou a levantar o IDHM Longevidade de 0,845 para 0,850. Já a dimensão educação, que avançou de 0,739 para 0,742, obteve uma importante contribuição do sub índice de frequência escolar, que passou de 0,792 para 0,797, segundo o Ipea.
O Rio Grande do Sul manteve o mesmo índice nos dois anos: 0,792, o que significa alto desenvolvimento humano. Foi o quinto melhor indicador do país, atrás de Distrito Federal, São Paulo, Santa Catarina (as únicas unidades com IDHM muito alto) e Paraná.