A cidade é pequena – são 3.470 habitantes. Mas não é pacata, porque os moradores são enérgicos: fazem yoga ao ar livre, são entusiastas da feira orgânica local e usuários ativos da ciclovia que corta a cidade. Somam-se a isso fatos, no mínimo, inusitados, como o caso do protesto das vacas que não suportavam o barulho dos sinos que carregavam no pescoço e que, por essa razão, conquistaram o direito de usarem protetores auriculares.
O excêntrico município, que completou 35 anos em dezembro, chama-se parque Mini Mundo. Localizado em Gramado, o espaço recebeu o Certificado de Excelência do TripAdvisor, no ano passado. Abriga mais de 200 réplicas de grandes pontos turísticos da arquitetura nacional e mundial — em miniaturas com tamanho 24 vezes menor do que os originais. O anseio de criar esse recanto fértil para a imaginação partiu da vontade do imigrante alemão Otto Höppner, que pouco falava português, de presentear a neta Adriana, na época com três anos, com uma casinha de bonecas.
Com a ajuda do filho Heino, o patriarca dos Höppner construiu o espaço de lazer para a pequena, em 1979, no pátio localizado ao lado do modesto hotel da família para que as crianças que ficavam lá hospedadas com os pais pudessem se divertir também. No mesmo cenário foram inseridos brinquedos infantis e uma ferrovia que circulava por todo o jardim. Pouco tempo depois, o neto Guilherme, com sete anos, acompanhou o avô em uma viagem à Alemanha. Lá, os dois conheceram uma cidade em miniatura e começaram a sonhar juntos com a realização daquele plano inusitado e audacioso.
A vontade de tornar real o desejo de um mundo em pequenas proporções foi se espalhando entre os demais integrantes da família. Além de Heino e Adriana, Jussara Höppner, nora e mãe das crianças, também comprou a ideia. A primeira grande réplica confeccionada foi o Castelo de Neuschwanstein, localizado no sul da Alemanha e modelo de inspiração para o palácio da Cinderela, personagem da Disney. Sua versão minimundiana inicial foi feita por Otto, em 1981, e contou com o auxílio de Jussara, que o acompanhou nas diversas idas e vindas a lojas de materiais de construção. Posteriormente, a imitação foi refeita. Hoje, ela tem 19 anos e apresenta exatamente as mesmas 508 janelas da edificação original. Conforme outros cenários e outras histórias, algumas fantasiosas, foram inspirando novas pequenas construções, o interesse de hóspedes, turistas e moradores locais aumentou, conta Jussara, atual administradora do Mini Mundo:
— A família é muito criativa e sonhadora, aí foram surgindo ideias conforme visitávamos os lugares do mundo. E as pessoas começaram a vir até aqui para conhecer e tirar fotos. O fluxo de visitantes ficou enorme. Colocamos uma cerquinha para ter controle, mas as pessoas pulavam. Depois, passamos e delimitar o horário que elas podiam vir. Por fim, passamos a cobrar R$ 1 pela entrada.
A popularidade do Mini Mundo era grande, mas em Gramado. O lugar se tornou conhecido nacionalmente quando o programa de televisão Fantástico veiculou uma reportagem sobre as realizações dos Höppner, em 1983.
— Depois que aparecemos na TV, não deu para segurar mais — conta Jussara, entre sorrisos.
Atualmente, são 3 mil metros quadrados, com réplicas de construções de prédios e espaços urbanos de oito países e mais de 4 mil bonsais que enfeitam a paisagem multicultural do parque. A curadoria das peças leva em consideração seu volume, a harmonia com as demais obras e a história de cada monumento. A cada nova escolha são investidos meses de estudo para que a reprodução fique semelhante à original. O Palácio do Príncipe de Mônaco, por exemplo, demorou aproximadamente um ano e meio para ficar pronto. Exigiu cinco viagens até o local para que todos os detalhes externos e abertos ao público fossem devidamente fotografados. As edificações são feitas com uma resina resistente o suficiente para suportar uma amplitude térmica que pode variar entre até -7°C, no inverno, e 47°C, no verão. A Usina do Gasômetro, a Torre Eiffel e a Torre de TV de Hamburgo são algumas das atrações que podem ser admiradas de perto pelas 15 mil pessoas que passam pelo parque mensalmente.
A oficina do Mini Mundo é composta por 15 pessoas e orquestrada por Guilherme Höppner, que se formou em Engenharia Elétrica. Para que, por exemplo, a cópia do Museu do Ipiranga ficasse perfeita, foi preciso muito trabalho, dedicação e uma pitada de ousadia. Foram necessários seis meses para fazer somente o jardim — a imitação do chão de pedras foi realizada com micropedaços de mármore colados um a um. Além disso, para que o tom do amarelo dos dois prédios fosse o mesmo, Jussara aproveitou as obras que estavam sendo realizadas no local, coletando do chão uma lasquinha de reboco para orientar a elaboração da tonalidade da tinta.
Em uma cidade de grandes construções, com tamanha movimentação, era necessária a figura de um governante — mesmo que imaginário —, pensou a família Höppner. Por isso, desde 2008, são realizadas eleições municipais na minicidade. Os eleitores são os visitantes, que podem ver as propostas de cada candidato nos cartazes espalhados pelas paredes do parque e depositam, ao fim do passeio, o voto na urna. A última prefeita, que exerceu a função por dois mandatos consecutivos, tinha como tema central em sua plataforma o cuidado com as vias públicas. O compromisso foi levado a sério e, ao fim da sua gestão, as ciclovias foram pintadas e as ruas e placas de trânsito estavam conforme as leis do Código de Trânsito, diz Jussara, hoje com 70 anos.
— O que acontece no mundo precisa acontecer aqui também. Enquanto tínhamos só prédios, estava muito sem graça. Por isso, resolvemos inserir aqui toda a dinamicidade e complexidade que a vida cotidiana tem. Há protestos, feiras, eventos culturais, prefeito de mentirinha e até mesmo um jornal local para falar sobre as notícias que correm por aqui — diverte-se ela.
Antes de sentar e conversar com a equipe no café do Mini Mundo, Jussara fez questão passear conosco por todo o parque. Contou curiosidades sobre personalidades que visitaram o espaço, camuflou-se entre os visitantes, cumprimentou os funcionários ao mesmo tempo em que mostrou-se atenta ao trabalho realizado por eles. Se Otto e Heino deram o pontapé inicial para o que se transformaria no Mini Mundo, hoje o empreendimento está concentrado em Jussara.
Entretanto, as decisões passam por toda a família. Todos os Höppner votam e opinam sobre os rumos do lugar que mistura realismo mágico, obstinação e imaginação. Foi de Jussara, porém, a decisão de que era preciso ter mascotes no local – o Ursinho Gui e a Ursinha Ana, que são uma homenagem aos filhos Guilherme e Adriana, são os xodós das crianças que visitam o parque.
— Tudo é muito familiar e feito com muita dedicação. Investimos sentimento aqui. Esse lugar nos incentiva a sonhar — define Jussara.
Para visitar
Localizado na Rua Horácio Cardoso, 291, em Gramado, o parque Mini Mundo está aberto diariamente, das 9h às 17h. O ingresso custa R$ 36, com meia-entrada para crianças e idosos. Outras informações: http://www.minimundo.com.br/
Miniaturas pelo mundo
O interesse por réplicas em miniatura não é uma exclusividade da família Höppner. Outras cidades oferecem a possibilidade de ver de perto edificações históricas mundiais em um só lugar. Em Hamburgo, na Alemanha, os irmãos gêmeos Frederik e Gerrit Braun são os responsáveis pelo Miniatur Wunderland, uma cidade com sete seções que reproduzem cenários dos EUA, da Escandinávia e da Suíça, em mais de 4,3 mil prédios e 13 quilômetros de ferrovias, distribuídos em 7 mil metros quadrados e habitados por 263 mil minimoradores. Há até um aeroporto, que mostra aos visitantes os pousos e as decolagens de 40 aeronaves.
Já o minumundo de Billund, na Dinamarca, é todo feito de lego. Criado por Ole Kirk Christiansen, em 1968, o Parque Legoland permite que o visitante visite reinos, veja a Estátua da Liberdade, dos EUA, o Templo de Abu Simbel, do Egito, e outras atrações turísticas de Paris e San Francisco. Na cidade histórica de Coimbra, há o Portugal dos Pequenitos, parque com miniaturas de prédios históricos inaugurado em 1940. Já em Nova York, o Gulliver’s Gate explora mais de 25 cidades, de cinco continentes diferentes, em suas versões de tamanho diminuto. O complexo tem quase mil prédios, 102 pontes e, curiosidade, conta com 47 companhias de pizza.