O Ministério da Saúde se prepara para fazer o fracionamento da vacina contra febre amarela. Nessa estratégia, já adotada em países africanos, a vacina é diluída de forma que uma dose é transformada em cinco. Estudos demonstram que, com esse processo, o efeito protetor da vacina se mantém, mas por um prazo muito menor do que a vacina tradicional. Um ano, em vez de dez.
Diante do aumento da pressão de Estados para ampliar a oferta de imunizantes e das filas enfrentadas em áreas onde não há risco da doença, o ministério encomendou um levantamento às secretarias de saúde para verificar qual a necessidade de ampliação da oferta.
– Dependendo do quantitativo, vamos importar ou fazer o fracionamento. Essa é uma decisão que vai depender do quanto a gente necessitar nesse momento – disse o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
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A decisão deve ser anunciada na próxima terça-feira. O Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado) apurou, no entanto, que o ministério já encomendou à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) um pedido para avaliar o preço e disponibilidade de seringas usadas para o fracionamento da vacina, não disponíveis no Brasil.
De acordo com a Opas, não há ainda uma definição sobre o preço do produto ou quando ele poderá ser entregue. Essas seringas especiais têm um tamanho menor, padronizado para a dose "diluída" da vacina contra febre amarela. O ministro afirmou que uma sondagem também está sendo feita para a compra de diluentes para fazer o fracionamento da vacina.
Há dois dias, o ministro da Saúde afirmou que o fracionamento seria o último recurso a ser adotado pelo governo. De acordo com ele, a desvantagem dessa estratégia é a validade curta. Passado um ano, o governo teria de providenciar mais vacinas para fazer uma imunização mais longa da população sob risco.
A opção pelo fracionamento ganhou força, no entanto, diante do aumento da pressão. Depois do Rio de Janeiro anunciar que estenderia a vacina para toda população até o fim do ano (o que significa 15 milhões de doses a mais do que o planejado), foi a vez da Bahia, na quarta, solicitar um reforço das entregas, também com o objetivo de ofertar a vacina para todo o Estado.
A decisão do governo baiano foi tomada em virtude da confirmação da morte de macacos provocada pela doença. São Paulo, por sua vez, diante da confirmação do aumento da circulação do vírus no Estado, solicitou 3 milhões a mais de doses da vacina, que seriam usadas em áreas pontuais, consideradas de maior risco.
Especialistas criticam a posição do Ministério da Saúde de concordar em estender a vacinação para áreas consideradas de pouco risco mas que, mesmo assim, demandam a ampliação da imunização.
– Isso significa um conforto à população. Estamos atendendo a uma ansiedade – disse Barros.
A hipótese de importação, estratégia preferida pelo ministro, foi colocada em segundo plano na quarta, depois de produtores internacionais informarem não ter o produto disponível para entrega imediata. Integrantes da pasta admitem que, qualquer que seja a solução para ser adotada em curto prazo, terá de ser feita com a vacina produzida por Bio-Manguinhos, da Fiocruz, e com as remessas encaminhadas pela Opas.
Há também a possibilidade de remanejamento de estoques. Barros disse que no Espírito Santo, por exemplo, depois de uma corrida nos postos, a vacina não está mais sendo procurada.
– Pedi que o Estado avalie a possibilidade de ceder parte das doses, pois ali o ritmo de vacinação já caiu – disse.
O ministro afirma no entanto não haver falta da vacina.
– Não há falta de vacinas. As vacinas estão sendo distribuídas de acordo com a cota estabelecida. A vacina fracionada somente não será dada para crianças menores de cinco anos e para maiores de 60 – afirmou.
Caso o fracionamento seja de fato decidido, a estratégia será estendida para todo o país.