Ao chegar no parque da Redenção, na manhã deste domingo, a técnica em enfermagem Tainara Belmonte, 35 anos, e o marido, o coordenador de logística Vinícius Salomão, 34, estranharam a intensa movimentação no entorno do Monumento ao Expedicionário.
Um grupo de mais de 50 pessoas se aglomerava no local. Enquanto algumas pessoas passeavam com seus cães, compartilhando uma cuia de chimarrão, eles dividiam filtros especiais e um telescópio para observar o céu. Ao ver tantas pessoas com suas cabeças inclinadas para trás, Salomão logo lembrou:
– É dia de eclipse!
Como o céu estava nublado e muito gente ainda se recuperando da ressaca do Carnaval, o fenômeno – que começou às 9h44min e atingiu seu ápice às 11h11min em Porto Alegre – pode ter passado despercebido para os mais desavisados. Não era o caso da família de Canoas.
O casal, que estava acompanhado dos filhos Gabriela, de 7 anos, e Miguel, de 3 anos, se aproximou do grupo e recebeu orientações de alunos e professores do Instituto de Física da UFRGS. Com um filtro especial, ficaram encantados ao observar, pela primeira vez, um eclipse solar – menos Miguel, que estava mais interessado em um filhotinho de cachorro que estava em busca de um lar.
– Eu vi só metade do sol! – vibrava Gabriela.
Segundo o professor Alan Alves Brito, diretor do Observatório Astronômico da UFRGS, o que ocorreu neste domingo foi um eclipse solar anular. O fenômeno, que ocorre quando a Lua está alinhada com o Sol e a Terra, pode ser visto de forma parcial na parte sul da América do Sul, no Oceano Atlântico, parte extremo oeste da África e Antártica. Em Porto Alegre, 56% do disco do Sol chegou a ficar coberto.
– Sempre que se fala em astronomia, as pessoas se interessam, porque ela faz essa conexão com o céu, com as grandes perguntas fundamentais e até filosóficas: quem somos? De onde viemos e para onde vamos? Estamos sozinhos no Universo? – diz Brito.
O professor lembra que nunca se deve olhar diretamente para o sol:
– Nem durante eventos como eclipses, nem durante o dia a dia. Nunca se deve olhar diretamente para o sol, nem usando materiais como chapas de raio-x ou papel celofane. Nada disso é seguro. Quando a gente olha diretamente para o sol, pode ter danos irreversíveis na retina.
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Fenômeno influenciou carreira de físico
O físico Arthur Alencastro Puls tinha 10 anos em 1994, quando ocorreu o último eclipse total do sol, visível no Sul do Brasil. O impacto de presenciar o fenômeno foi tão grande que, quase duas décadas depois, fez com que ele trocasse a área de atuação.
Formado em jornalismo, Puls largou o emprego de fotógrafo e, em 2013, começou uma nova faculdade (física). Neste ano, ele inicia mestrado na área.
– Esse é o quarto eclipse que presencio. O primeiro, em 1994, marcou muito. Lembro de passar meses desenhando o que eu tinha visto. Certamente, deu um empurrãozinho para eu gostar do assunto – conta.